De autoria de Fernando de Rojas, A Celestina: a tragicomédia de Calisto e Melibéia foi publicada, primeiro, de forma anônima. Fez grande sucesso, e muito se discutiu, à época (1499), quem seria seu autor. Vários nomes foram apontados, até que, na segunda edição (1500), foi incluída uma introdução, na qual são feitas algumas revelações sobre a obra.

Neste texto, há alguns versos, cujas primeiras letras formam um acróstico – quando certas letras, se lidas em outra direção, formam palavras ou frases – que diz, em espanhol atual: “El bachiller Fernando de Rojas acabó la comedia de Calisto y Melibea y fue nascido en La Puebla de Montalbán”. Assim, o autor acabou com o mistério.

Mas por que não se revelar já na primeira edição? Nesse mesmo texto, Rojas diz que foi por medo dos detratores e das más línguas, que, por ser ele um jurista e a obra tão alheia à sua profissão, poderiam dizer que estava deixando o trabalho de lado para se dedicar a outra coisa.

Em A Celestina, como a obra costuma ser chamada, Calisto se apaixona à primeira vista por Melibéia, mas quando se declara, é rechaçado. Sentindo-se o mais desafortunado dos homens, volta para casa e desabafa com um criado, Semprônio, que se compromete a ajudá-lo. Para isso, ele procura Celestina, a quem define como “bruxa, esperta, feiticeira, conhecedora de todas as maldades do mundo” (p. 27). Ela é a dona do prostíbulo onde mora a namorada de Semprônio, e o que ele disse não deixa de ser verdade…

Semprônio leva Celestina à casa do patrão, explicando a ela, no caminho, para que precisa de sua ajuda. Vendo-os chegar, Pármeno, outro criado de Calisto, alerta-o sobre quem é a mulher e quão perigoso é associar-se a ela. Mas, desesperado, Calisto não lhe dá ouvidos.

Após conversar com o jovem apaixonado e receber seu primeiro pagamento, Celestina reencontra Semprônio para tramar como tirar o máximo proveito da situação, conseguindo tudo que puderem de Calisto e, quem sabe, também de Melibéia, a quem, depois de conjurar um feitiço para que a moça ceda a suas investidas, Celestina visita. Esse é o começo da derrocada do casal.

Como fica claro na introdução à segunda edição, o objetivo de A Celestina é alertar aos jovens que tomem cuidado com as ‘ajudas’ que lhes oferecem. A obra fez tanto sucesso que “Celestina” virou um substantivo em língua espanhola, significando, conforme o dicionário da Real Academia Española, “mulher que cria os meios para que uma relação amorosa ocorra” (tradução minha). E, por extensão, também adquiriu o significado de “pessoa que facilita ou promove, de maneira encoberta, contatos com fins políticos, comerciais ou de outro tipo” (tradução minha).

 

Referência:

ROJAS, Fernando de. A Celestina: a tragicomédia de Calisto e Melibéia. Tradução e adaptação: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2008. 248p. (L&PM Pocket, v. 696)

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Diccionario de la lengua española. 23ed. Online. Disponível em <https://dle.rae.es>. Acesso em 20 dez. 2022.