A cultura da violência

O povo não sabe mais a quem recorrer. Se tem mais medo do bandido ou da polícia, eis a questão

O menininho tem apenas dois anos e meio, mas já é o terror das crianças da sua quadra. Sem mais nem menos, ele chega ao grupo, chuta a bola pra longe – às vezes a rasga ou fura – e bate com pau ou pedra naquele que ousa enfrentá-lo.

Ao retirar-se, esfrega as mãos satisfeito e diz bem alto: “É pra tu aprender.”

Filho de pais separados, ele ora é despejado a empurrões ou pontapés pela mãe, na casa do pai, ora recebe desse a correção que precisa. Tapas na cara, xingões, castigos.

O foco do momento das manchetes expõe a violência da polícia no seu deturpado dever civil de proteção aos cidadãos. Cada dia, mais violência urbana nas favelas e periferias das grandes cidades. O povo não sabe mais a quem recorrer. Se tem mais medo do bandido ou da polícia, eis a questão.

No meu tempo de estudante em Cachoeira do Sul, a chegada ou partida de um comandante do Exército ali sediado era festejado com honras e louvores. Seguidamente a Escola João Neves com seu coro orfeônico afamado recebia essas autoridades, que se deleitavam com a música e a regência da famosa Diná Néri.

Sentíamos que sua missão era proteger-nos dos inimigos da Pátria. E seus trabalhos de engenharia muito contribuíram para as obras da cidade, pontes, estradas… Suas atividades não se concentravam apenas em assuntos bélicos, mas principalmente em educar para o respeito ao cidadão e a paz.

Como o menininho acima citado, quantos outros tiveram o mesmo clima de infância, que não lhes legou nenhuma vontade de ser bom, mas só de vingar-se dos males sofridos e dos bens que nunca puderam alcançar.

Nossas favelas transformaram-se em Quartéis poderosamente armados e treinados para essa bandidagem que explora seus habitantes, expulsa-os das moradias, cobra proteção e infunde o medo.

E as Brigadas Militares fazem contínuas invasões, onde sempre ocorrem mortes de inocentes por balas perdidas. Geralmente da Polícia.

Mas o que detonou a revolta geral da nação foram as atrocidades cometidas pelas brigadas de S. Paulo, Rio e outras cidades que atiram no suspeito em vez de prendê-lo ou averiguar sua culpa.  Sufocam com joelhaços, até a morte, aqueles que resistem à abordagem; esbofeteiam  senhoras idosas até fazê-las cair ou desmaiar, e essas pessoas não os denunciam com medo de mais represálias.

O treinamento que recebem dos superiores é para terminar com os criminosos, esquecendo que não lhes compete o direito à sua vida. Eles são pessoas, filhos de alguém, pais, maridos, gente que merece ser julgada antes da condenação.

A desculpa da Defesa Civil e do Governador paulista é a diminuição do índice de crimes computados nos últimos dias.

Menino Jesus de Belém, foste pobre de bens, mas rico de amor. Protegei nossas crianças e dai-lhes um santo e feliz Natal.