A escrava Isaura é um romance de Bernardo Guimarães, de 1875. A trama se inicia nos primeiros anos do governo de D. Pedro II. Em Campos dos Goytacazes, há uma grande fazenda, pertencente ao comendador Almeida. Vindo da casa da propriedade, é possível ouvir um piano e uma triste voz, cantando sobre a escravidão. Essa voz pertence a uma escrava, Isaura.

Filha de um antigo feitor da fazenda, Miguel, e de uma escrava que fora, por muito tempo, criada da esposa do comendador, no princípio, Isaura é bem tratada por seus senhores. Após a morte da mãe, ficou sob a proteção de sua senhora, que a educou como a uma filha, e era assim que a considerava, tanto que pretendia dar-lhe a liberdade.

Mas a senhora morreu pouco tempo depois do casamento do filho, Leôncio, sem poder cumprir sua promessa. Então é Malvina, a esposa dele, quem assume a tarefa para si, e insiste com o marido para que o faça. Apesar de ter poder para isso, já que o pai lhe passara o comando da fazenda, ele inventa empecilhos, pois está enlouquecido pela escrava, e não aceita, de forma alguma, o fato de ela rechaçá-lo.

Quem também busca a liberdade de Isaura é Miguel, que tenta de todas as formas comprá-la, mas o comendador nunca aceita. Como ele insiste diversas vezes no assunto, Almeida pede um valor muito alto pela escrava e lhe dá um prazo para consegui-lo.

Isaura canta até Malvina aparecer. Pouco tempo depois, chega Leôncio. O que tem a esposa de boa pessoa, ele tem de má. Viveu muito tempo na Europa, gastando a fortuna dos pais; só depois de casado foi morar na fazenda. E então reparou em Isaura e passou a assediá-la constantemente.

Ao descobrir o interesse do marido pela escrava, Malvina perde todo o carinho que tem pela jovem e ordena que ele escolha uma das duas. A outra deve deixar a casa. Nisso estão quando chega Miguel, portando a quantia exigida pelo comendador para comprar a filha. Com Malvina pressionando-o de um lado e o pai de Isaura de outro, poderá Leôncio esquivar-se de libertar a escrava e, assim, deixá-la em paz?

O narrador foi um dos elementos de que mais gostei em A escrava Isaura. Em terceira pessoa, ele fala, por vezes, diretamente ao leitor. Isso fez com que eu me sentisse uma expectadora mais próxima da trama, e na minha imaginação, era como se uma câmera estivesse com ele, mostrando tudo.

Durante toda a leitura, fiquei pensando sobre como era entendido o amor na época. Sempre que se refere ao que sente Leôncio por Isaura, o narrador o chama de amor. Mas aquilo pode ser, realmente, chamado assim? No tempo em que a obra foi escrita, pode até ser que sim; mas hoje, não. Aquele é um sentimento de posse. Leôncio a vê como uma coisa que lhe pertence e que está ali para servi-lo, para que ele use a seu bel-prazer.

 

Referência:

GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Jandira, SP: Principis, 2021. 176p.