Lembro meu primeiro relógio de pulso. Da Casa Masson, comprado a prestações, no segundo ano de meu magistério. Era bem delicado, com números miúdos que eu não tinha dificuldade de distinguir. Gente nova, olhos bons.
Fiquei com ele até o nascimento de meu caçula. Depois, foi uma sucessão de relógios nacionais ou do Paraguai que não tiveram a mesma duração.
Primeiro, eram de corda, e a gente acertava a hora pelas rádios mais ouvidas. Era um tal de desencontro de horários por esquecimento de mantê-los ligados. Depois, surgiram os relógios com pilhas, e os problemas diminuíram um pouco. Hoje, eles quase desapareceram, substituídos por outros mecanismos e pelos celulares. A internet conseguiu o grande feito: a hora certa para todos os interligados.
Mas, pensando bem, o relógio de pulso ainda faz falta. Quando vamos às compras ou a repartições que têm seus horários de funcionamento e de recesso, seguidamente acontece de encontrá-las fechados, e o fato de manter nossos celulares na bolsa ou no bolso não nos avisa a tempo.
Em vão procuro relógios de parede nesses lugares, para alertar-me, poucos ainda conservam esse costume.
Por isso, estou quase convencida a retornar ao uso do relógio de pulso. Dará menos trabalho do que buscar o celular no fundo da bolsa.
Uma tia querida, ao completar 94 anos, recebeu de presente relógios de todos os tipos de seus sobrinhos. Uns de pulso, outros de cabeceira, algum de parede. Ela nunca tivera um que fosse seu e ficou muito contente. O de pulso, ela disse que só usaria para sair. Mas sendo muito caseira, creio que nunca ou pouco o usou. Coitadinha, logo depois faleceu. Mas, até o último momento, entreteve-se em dar corda ou pôr pilhas em seus presentes. Hoje, ela é mais um ente abençoado que não precisa ver as horas, pois tem toda a eternidade a seu dispor.