Com a necessidade de isolamento para frear a proliferação do novo Coronavírus, surgiu um novo cenário para os professores, pais, mães e responsáveis: as aulas em casa. E com elas um grande desafio para muita gente, que é conciliar o trabalho, cuidar dos afazeres domésticos e acompanhar e orientar os estudos das crianças.

Josana Pereira Goudinho de 32 anos tem vivido essa nova realidade desde o início da pandemia, ela é garçonete e mãe de três filhos, Analice de 16 anos, que está cursando o 2º ano do Ensino Médio, o João Vitor de 13 anos, na 6ª série do Ensino Fundamental e o Luis Fernando de 8 anos, na 3ª série do Ensino Fundamental. Ela conta que não está sendo uma tarefa fácil “algumas coisas não sei ajudar, pois não tenho muito estudo, tenho apenas o fundamental incompleto.” Relata a mãe.

A psicóloga e professora Débora Freitas, que atua na área escolar, com atividades de Psicoeducação e leciona para alunos dos cursos Técnicos em Administração, Contabilidade, Normal e crianças dos primeiros e segundos anos das séries iniciais nas aulas de Produções Interativas da Escola Dinarte Ribeiro, relata que a dificuldade do professor e também dos pais começa pelo fato de que não houve planejamento para enfrentar este momento. “Todos nós fomos aprendendo e nos adaptando à medida em que as coisas foram acontecendo. Ninguém estava preparado.”

A mãe Josana relata que precisa dedicar um tempo para a organização das atividades, normalmente logo que as recebe já separa primeiro as de cada um dos filhos e depois divide elas um pouco para cada dia da semana. E as atividades precisam ser feitas sempre durante o dia quando ela está em casa, pois trabalha a noite, as vezes ela permite que eles façam a noitinha e ela olha quando chega do trabalho. “Acho muito importante participar e ajudar no que for preciso pois é parte fundamental para o desenvolvimento deles.”

Mas se as famílias estão sobrecarregadas os professores também estão, segundo Débora a saúde mental dos professores tem sido motivo de preocupação. Muitos sentem-se estressados, esgotados e até deprimidos. As horas de trabalho aumentaram muito com o trabalho remoto. Foi preciso uma adaptação a diversas situações novas como as aulas nas plataformas, gravação de vídeos, uso de aplicativos para aulas online, as instruções e o ensinar “de longe”, dificuldade com equipamentos tecnológicos, planos de internet não tão bons algumas vezes, reuniões pedagógicas online, cursos solicitados pelas coordenadorias, enfim, muitas situações novas, além da disponibilidade quase integral para atender pais e alunos pelo WhatsApp.

“Muitos pais só conseguem ajudar os filhos e acessar a plataforma depois que chegam do trabalho, a noite ou aos finais de semana e é preciso que o professor compreenda isto e também se solidarize com os pais, o que tem acontecido. Percebemos uma grande disponibilidade e comprometimento dos professores com pais e alunos, mesmo diante de todas estas condições adversas. Mais do que nunca o professor tem se reinventado e demonstrado seu compromisso e dedicação com seu trabalho. Ressaltando que pesquisas têm mostrado o quanto o trabalho de forma remota, de forma intensa e contínua, tem levado os profissionais à exaustão.” Destaca Débora.

E tudo isso vai ao encontro com o que a mãe Josana relata, pois para ela o apoio da escola e das professoras de seus filhos tem sido fundamental para que eles possam continuar aprendendo mesmo de longe. “As escola dos meus filhos ajuda em tudo que precisam e dão o suporte necessário. Mas mesmo assim não acredito que eles aprendam como nas aulas presenciais, porque na escola tem aquela explicação mais detalhada e individual que as vezes só pode ser feita pessoalmente.”

Josana conta que pelo fato de cada um de seus filhos estar em uma fase escolar diferente, eles apresentam níveis de dificuldade diferentes, mas em especial o João de 13 anos que está no sexto ano, “é mais difícil pois não sei muito sobre as matérias e ele já apresentava bastante dificuldade de aprendizagem em sala de aula e na online tem mais ainda, mas não desistimos e aos poucos estamos conseguindo.”

O pequeno Luiz relata com carinho a ajuda da sua professora Adriana, “as vezes não consigo entender algumas matérias que são mais difíceis mas ai todas as quartas tenho aula em vídeo com a Prof Adri e ela me explica, mas preferia as aulas na escola.” E conta que sente falta dos colegas e da professora. Segundo a mãe estar longe da escola gera uma certa ansiedade e é comum as perguntas de quando vão ter aula na escola e se quando as aulas voltarem eles vão poder ir.

Para a psicóloga Débora, independentemente da idade, a pandemia, e o distanciamento social, vai trazer algum grau de ansiedade. Seja para uma criança, um adolescente ou para nós, adultos. A intensidade vai depender principalmente, de como o adulto está lidando com suas emoções neste momento. É fundamental uma conversa honesta, aberta, onde este adulto possa acolher os sentimentos da criança, do adolescente. Conversar sobre a situação da pandemia, ensinando como se proteger ao invés de minimizar ou negar o problema, mas também sem criar pânico. É preciso ensinar ferramentas e estratégias de proteção para o enfrentamento.

O principal neste momento de distanciamento é estreitar laços, sejam eles entre pais e filhos, alunos e professores, famílias e escolas, pois apenas a união de forças vai garantir que todos continuem aprendendo e se desenvolvendo de forma segura.