Em meu novo estilo de vida, obedecendo aos protocolos antivírus, tive que me acomodar a outras maneiras de preencher as horas de lazer. E as palavras cruzadas ganharam cada vez mais espaço. Tenho até medo que, de hábito, passem a vícios. Consolo-me pensando que elas têm suas utilidades. Uma delas é ativar o cérebro, retardando os lapsos de memória e a caduquice.
Mas o Correio do Povo, a Zero Hora e às vezes a Gazeta não chegam a suprir meus espaços. Também fui notando que, ao contrário de “gabaritar” com facilidade as charadas, elas se tornaram mais difíceis de acertar. Tantas palavras novas surgindo todos os dias, e as minhas velhas conhecidas foram desaparecendo.
Cheguei à conclusão de que as palavras também têm prazo de validade. Nossos antepassados, se voltassem, não entenderiam os letreiros das lojas, os avisos nas estradas, as manchetes de jornais. E nem as nossas conversas, quanto mais a dos adolescentes de agora, que têm seu próprio vocabulário.
Aprendi nesse “vício” que as palavras que usamos vêm do latim, do grego e de outras civilizações mais antigas. Além dessas, porém, surgem outras mais modernas, que são inventadas, constituindo-se em neologismos. É a nova moda que vem para explicar os atuais fenômenos da comunicação, dos acontecimentos mundiais, de política, de sociedade, de economia e de tantos outros que se abateram sobre nós neste Milênio que dificilmente adivinharíamos chegasse tão diferente.
Mas, ao mesmo tempo, estou assistindo a um renascimento. São obras de grandes poetas e escritores, como Dante Alighieri, que viveu há sete séculos, e os Historiadores e Literatos de agora não deixam morrer. Porque elas não perderam sua atualidade. Ainda representam o mundo e a vida do ponto de vista humano e transcendental. O Homem, com suas virtudes e defeitos, sua fome de poder e privilégios, as desigualdades sociais, a miséria, o ciúme, o amor e suas alegrias e dores, enfim, “A Divina Comédia” ainda pode ser representada com sucesso em livros, teatros, música, pintura e toda a engenhosidade de nossos dias.
A palavra tem alma. É eterna. E como diz Paulo Mendes, nas suas belas Campereadas: “O maior poder da palavra é ajudar a sonhar e a viver.”