A pequena sereia e o reino das ilusões, de Louise O’neill, é uma releitura do conto de Hans Christian Andersen. Sua trama tem um viés de empoderamento feminino e é um meio-termo entre a versão original e a adaptação da Disney: nem tão sombria, mas também nem tão feliz.

Essa releitura é narrada em primeira pessoa pela princesa-sereia Gaia, quem, desde criança, sonha ir à superfície ver o mundo humano. Esse interesse, assim como sua aparência física – uma beleza estonteante e cabelos muito ruivos –, ela herdou da mãe, Muireann, quem teve um destino trágico.

Muireann costumava nadar na superfície para observar os humanos até, um dia, desaparecer. O rei e parte de suas filhas consideram que ela os abandonou, e o povo sirênico age como se ela estivesse morta. Exceto Gaia, que acredita que a mãe fora levada contra a vontade e pode ainda estar viva.

A estória começa no aniversário de 15 anos de Gaia, idade com a qual ela terá permissão para realizar seu grande desejo. A adoração da princesa pelos humanos é igual a de qualquer adolescente por um artista: seu quarto é decorado por itens do mundo humano que caíram ao mar. Essa foi a primeira aproximação que notei com nossa sociedade. Outra semelhança é que, no reino de Gaia, também há muitas pessoas excluídas por não se encaixarem no padrão que o rei considera ideal. Elas habitam Longemar, território que, em certo sentido, lembra as favelas.

Essas semelhanças podem ser encontradas na atualidade, mas há uma que se aproxima mais do pensamento de alguns anos atrás. Na sociedade sirênica, as sereias são completamente submissas aos tritões, e os casamentos são arranjados.

Gaia está prometida a Zale, quem tem idade para ser seu pai. Porém, ao subir à superfície, vê um garoto, Oliver, e se sente atraída por ele. Quando começa uma tempestade e o barco em que Oliver está vira, Gaia o salva. Mas seu ato pode fazer com que, a qualquer momento, uma grande guerra entre seu reino e o Mar de Sombras recomece. Ciente disso, como Gaia poderá seguir sua vida normalmente, sobretudo quando deseja, cada vez mais, rever Oliver?

Mas não se engane: essa não é uma estória de amor.

 

Referência:

O’NEILL, Louise. A pequena sereia e o reino das ilusões. Tradução de Fernanda Lizardo. São Paulo: Darkside Books, 2019. 224p.