Os animais abandonados pelos ibéricos ocuparam grandes áreas planas, tanto no Planalto quanto na Campanha e, durante mais de 40 anos, se reproduziram descontroladamente. Sem predadores naturais, concorreram com os animais selvagens dos grandes campos – como lhamas, alpacas, capivaras, grandes felinos, guanacos e cervídeos – levando algumas espécies a desaparecer da região, e outras – como os pumas e as onças – a se multiplicarem de forma exponencial. Em 1682, os jesuítas espanhóis retornaram à região, iniciando o Segundo Ciclo das Missões na Província de São Pedro.
São fundadas as reduções de São Borja (1682), São Nicolau (1687), São Miguel (1687), São Luis Gonzaga (1687), São Lourenço (1690), São João (1697) e Santo Ângelo (1706). Este é considerado o período áureo das Missões Guaraníticas, pois os centros construídos pela Companhia de Jesus eram altamente urbanizados. Diferente do Primeiro Ciclo, em que as construções eram mais simples e feitas em madeira, os novos pueblos eram erigidos em pedra, pintados com cal e possuíam áreas para despejo, currais, ferrarias, celeiros, cilos, fontes e variadas oficinas. Produziam uma arte sacra própria, com linhas barrocas características.
Neste período, outra leva de exploradores portugueses entram no território do atual Rio Grande do Sul. Diferente dos castelhanos, que começaram suas incursões no sentido leste a oeste e no território argentino de norte a sul, os portugueses traçaram outros caminhos. Os lusos atravessaram o Rio Tramandaí nos primeiros anos do século XVIII. Segundo cartas de militares e padres portugueses deste período, até 1703, não existia nenhum vilarejo ao longo do caminho natural do litoral, apenas uma grande quantidade de gado solto nos campos próximos à praia. É essa riqueza “natural” que vai atrair os primeiros moradores portugueses da região.
As bases da conquista portuguesa do Rio Grande do Sul foram a Colônia de Sacramento – fundada no estuário do Prata, em 1680 – e de Laguna, em 1684. Foi a partir destes postos avançados que partiram as primeiras expedições de militares portugueses, entre os anos de 1715 e 1724, quando penetraram mais uma vez no território das Missões, descobrindo as imensas plantações de erva-mate dos jesuítas espanhóis e a Vacaria Del Mar, resultante da primeira fuga dos espanhóis em 1682.
Estas bases deram apoio – 25 anos depois – ao desembarque de estancieiros na Barra do Rio Grande, em 1725, e na barra do Rio Tramandaí, em 1732. Foi a partir destas movimentações lusas que iniciou a exploração das grandes vacarias e a abertura do Caminho dos Conventos, primeira estrada a ligar o Rio Grande do Sul a São Paulo. A interiorização portuguesa no território da Província de São Pedro se intensificou em 1734. Começaram a surgir os Postos do Quinto – o Pedágio Real – e entrepostos de gado, como forma de firmar a autoridade do Reino Português na região.
É durante esta década que os portugueses chegam a Clareira da Mata, um acampamento de caça dos primitivos índios pampeanos e guaranis, que durante milhares de anos foi usado para vigiar os primitivos rebanhos selvagens, e agora servia de apoio à caça do gado selvagem e ao controle das grandes manadas de equinos, asininos e vacuns que corriam livremente pelos campos. O pueblo – onde as línguas faladas eram o guarani e o castelhano – de casas de madeira com cobertura em sapé, casas caiadas, de pedra e estuque abrigava poucas centenas de indivíduos, que viviam da caça do gado, da extração de couro e do sebo. Quando os lusos chegaram, viviam na “Caá-açapaba” guaranis, mercenários, escravos fugitivos, preadores, indivíduos provenientes da falência do Projeto Missioneiro e sobreviventes da Guerra Guaranítica.
(continua na próxima semana)