Nas duas décadas finais do século XVIII, o pequeno pueblo chamado de Caçapava cresceu com a chegada dos lusos. Junto aos militares portugueses, vieram padres, que construíram a primeira capela, que fazia os serviços religiosos e administrativos da comunidade. A Igreja sempre esteve na vanguarda do Reino Português, chegando muitas vezes nos territórios desconhecidos do Brasil antes dos militares e dos exploradores europeus. Os militares tinham função de policiamento e guarda das áreas ocupadas, sendo por regra os administradores maiores das províncias, das vilas e dos municípios.

Caçapava e seus habitantes, num primeiro momento, viviam de um processo extrativo de prea. Os grandes rebanhos de gado vacum xucro, chamados de Orelhano, Franqueiro ou Chimarrão, eram manejados, caçados e preados. Grandes tropas capturadas eram levadas às charqueadas na região de Pelotas. Outras eram abatidas no campo para a extração do couro, que era estaqueado, seco e comercializado com mascates ou levado no lombo de mulas para os portos de Tramandaí, Rio Grande ou Colônia de Sacramento.

Esta caça desenfreada primitiva e a falta de manejo foi aniquilando os rebanhos xucros, e surgiu, assim, a necessidade de um manejo que permitisse que as vacarias se recuperassem. Neste período histórico, outro problema para Portugal era a necessidade de fixar colonizadores na região para garantir a posse das terras da Campanha, sempre cobiçadas pelos espanhóis.

A alternativa foi a concessão de sesmarias de terras. Era a forma de controlar os rebanhos e garantir a segurança e o policiamento da fronteira. Os primeiros a receber as terras foram os pioneiros que abriram a estrada entre Laguna e Sacramento, e depois os veteranos portugueses da Guerra Guaranítica e outros corajosos homens que tinham recursos para investir numa aventura nos territórios do Sul do Brasil.

Foi na Guerra Guaranítica que começou o extermínio das grandes vacarias e cavalhadas. As tropas ibéricas, para manter suas guerras intermináveis, sempre utilizaram do saque e do roubo para manter seus soldados e suas campanhas militares.

As sesmarias foram lentamente transformadas em estâncias. Os gaúchos preadores da região foram incorporados a esta nova realidade de cercas, marcas e invernadas. Mas os rebanhos selvagens, pelo que mostram os documentos, correram soltos pelas planícies da região até a Guerra Civil de 1835.

Na próxima semana, transcreveremos duas documentações do pós-Guerra, de 1847. O texto mostra que a área rural da região estava destruída, e as propriedades, arruinadas. A causa era o saque das tropas Imperiais e Farroupilhas. Nele, também se observa a importância do couro e dos cavalos no processo de reconstrução da Província de São Pedro.