Passou no Fantástico, recentemente, uma reportagem sobre a vida de 30 mil índios Yanomamis que vivem miseravelmente em uma reserva nos ermos dos Estados de Roraima e do Amazonas.

Conforme a maioria dos leitores sabe, andei lá pela Amazônia na década de 1970, por cerca de quatro anos. Já faz tempo, mas pouca coisa mudou de lá pra cá. Algumas estradas foram asfaltadas, mais ONGs se instalaram e receberam dinheiro público para “preservar e explorar” a terra que não é deles e cuidar dos índios, que vivem como animais selvagens na sua grande maioria. Ah, o povo de algumas reservas também empobreceu, como a Raposa do Sol, em Roraima, onde vivem os Macuxis, ao Norte, no Cerrado. Lá, plantavam enormes lavouras de arroz de sequeiro e pagavam arrendamento para os índios, que usufruíam de seus ganhos como rendimento coletivo. Com a criação da reserva, a fonte secou.

Custo a acreditar que tenha gente instruída e pretensamente conhecedora das coisas que ainda imagine que um índio deva viver nu, como um animal selvagem, no meio do mato, sem comida adequada, sem tecnologia, sem instrução, sem apoio mínimo de saúde, somente porque os ditos intelectuais europeus e os americanos desejam. Até que os recebam, como animais de estimação ou espécime rara, representados por alguns caciques ou pseudocaciques, a quem a mídia evoluída e tendenciosa dispensa a maior importância.

Vivem mal, também, os índios do Brasil civilizado, esses que moram acampados nas beiradas das estradas, recebendo migalhas, comendo mal, apartados e rejeitados pela sociedade dita civilizada, sem direito a progredir de vida, a explorar suas terras, sem condições de acesso às riquezas que todo mundo tem, tal qual os seus vizinhos brancos.

Os índios brasileiros precisam estudar, trabalhar, enriquecer, desenvolver a sua cultura como cidadãos nacionais, assim como os portugueses, os brancos, os negros, os alemães, os japoneses, os italianos e todas as outras raças que aqui chegaram e, hoje, vivem em espetacular miscigenação, o que faz do nosso povo um dos mais interessantes do mundo.

Índio não é animal de estimação para ser tratado como um ser inferior, à margem da nossa sociedade hipócrita, que há mais de 500 anos os ignora. E não me venham com essa conversa fiada de que organizações estrangeiras querem proteger e admirar a beleza natural e selvagem dos nossos silvícolas, e que vêm para os nossos sertões florestais para estudar e defender os índios. Por causa do beiço do Raoni? Perguntem a qualquer índio se, depois de saírem do mato, vestirem roupas, conhecerem TV e celular, eles aceitariam voltar ao mato para caçar cateto com arco e flecha e pescar surubim com arpão para comer moqueados.

As lembranças históricas e culturais dessa gente devem ser cultuadas e visitadas como nós visitamos e rememoramos o nosso passado histórico. Com saudade, com reverência, com respeito à herança cultural, mas jamais com retrocesso àquelas dificuldades existenciais. Até porque pra frente é que se anda, e assim caminha a humanidade, evoluindo.