Quantas pessoas conhecemos que se enquadram nesta categoria de gente? Nem todos idosos, tipo caducos, ou desmiolados, que não têm o que fazer e vivem guardando bugigangas porque, um dia, poderão precisar. Inclusos aí, nesse cacoete, revistas velhas, móveis estragados, brinquedos muito antigos que eram dos filhos quando pequenos e que hoje nem os netos querem brincar mais, porque ficaram antiquados, fora de moda. Hoje, os miúdos só brincam com eletrônicos…
Minha mãe costumava manter as gavetas lotadas de porcarias: caixas de remédio vazias, sobras de cartelas incompletas, latas de pomada Minâncora sem pomada, santinhos de políticos de tudo quanto era partido, botões encontrados pela casa, restos de linha de crochê e de costura, bulas de medicamentos, recortes de jornais, etc. A cada ano, nas férias, eu fazia uma faxina nas gavetas lá de casa, e ela rezingava comigo por estar “botando fora coisas que, um dia, poderiam servir na hora de um aperto”.
Existem, também, os que gostam de guardar lixos, papelões, móveis descartados pelas ruas, eletrônicos que já não funcionam, panelas velhas, e um mundo de cacaria que muito bem faria se fosse para o descarte.
Dona Vergilina, há pouco falecida, cultivava um quartinho nos fundos da casa onde guardava as coisas antigas que poderiam servir: apelidou aquele local de “comunismo”, numa referência e resposta aos de casa que a criticavam.
‒ Deixa lá as minhas coisas comunistas, pois quando preciso, eu acho, e servem para quase tudo que se precisa em casa, na hora duma emergência ‒ dizia, justificando os seus guardados.
Dizem que essas pessoas têm problemas psicológicos e, acumulando, compensam perdas ou faltas que carregam dentro de si. Se agarram a esses objetos como tábuas de salvação de estimação, que preenchem os seus espaços carentes no coração.
Guardar fotos antigas pode até ser bom, mas serve também para reavivar feridas, recordar de fatos e de pessoas que já não fazem parte dos nossos dias, são do tempo das casas velhas e, se nos trazem lindas lembranças, nos fazem também recordar as tristezas e os sofrimentos ultrapassados.
Conheço, também, os acumuladores de raivas, de desejos de vinganças, do mal das invejas, de cobiças descaradas e de um sem número de sentimentos malditos que teimam em permanecer ativos na mente ou no coração de muitas pessoas, e que não contribuem para melhorar o bem viver de ninguém.
Temos o dever e o bom senso de acumular amor ao próximo, respeito pelos outros, carinho pelas crianças e pequenos animais domésticos, consideração para com quem convivemos e paciência com os mais velhos que nos criaram e ainda nos vêm como propriedade sua, um bem que eles precisam cultivar até o fim das suas vidas. E nós também, se tivermos juízo.