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Projeto iniciou ofertando uma pequena biblioteca e aulas de reforço escolar a alunos da rede pública de ensino. Em 2006, passou a oferecer cursos e oficinas, mas, com a diminuição dos recursos e a pandemia, as atividades foram paralisadas. Agora, a expectativa é de que, ainda este mês, sejam retomadas
Por Luiz Felipe de Oliveira
O CTG Clareira da Mata pretende retomar em breve as atividades desenvolvidas no Ponto de Cultura Encontro com a Tradição Gaúcha. A novidade foi anunciada pela coordenadora da iniciativa, Vanda Beatriz Marques Sito, e pela secretária do CTG e auxiliar do Ponto de Cultura, Irma Alves Dorneles, em entrevista à Gazeta, na tarde de segunda-feira (19).
Com um financiamento do Ministério da Cultura, em 2006, o projeto começou a ofertar oficinas e cursos sobre a cultura gaúcha, como as oficinas de Comunicação, com o radialista Vilmar Hampel, da Rádio Nativa FM; de guasqueria, com o artesão João Batista Dorneles; de culinária, com o professor Abrelino, do SENAR de Pelotas; e de grafite, com o artista Manfred Uberon, do CRAS, além de disponibilizar aulas de violão, de dança tradicionalista e de informática.
Porém, antes disso, o Ponto de Cultura já realizava ações em prol da educação de jovens estudantes da rede pública, dispondo de uma pequena biblioteca com livros provenientes de doações e aulas de reforço escolar. Assim, permitiu o desenvolvimento cultural e profissional de muitos jovens, dos quais, segundo Vanda Sito, uma boa parcela já é independente financeiramente e atua em lugares de destaque na sociedade.
Mas não apenas os jovens tiveram um avanço significativo em suas vidas. Muitos adultos, pais, mães, amigos, parentes e idosos conhecidos da juventude passaram pelas oficinas.
– Depois que uma mãe veio até mim para dizer que o Ponto de Cultura conseguiu salvar o seu filho e a relação da família, foi que percebi a grandeza e a importância do que estávamos fazendo. “Salvando do que?”, me questionei – comentou Vanda.
Sobre o que motivou a criação do Ponto de Cultura, ela destacou duas razões. A primeira foi sua experiência nas escolas públicas do município, em que foi professora, supervisora, gestora e orientadora pedagógica durante 30 anos. Nesse período, pode perceber um déficit na formação cultural dos jovens, que, devido ao tempo ocioso no turno inverso ao da escola, ficavam propensos a contextos de violência e drogadição, principalmente aqueles de classes sociais mais baixas.
– Era preciso trazer o jovem para dentro do CTG e ocupá-lo com atividades lúdicas, que pudessem dar um encaminhamento para o seu futuro, partindo da crença de que o conhecimento abre caminhos e de que a educação transforma – declarou.
A segunda razão estava relacionada à prática cultural que o CTG vinha promovendo desde sua fundação, na década de 1970. De acordo com Vanda, a comunidade negra e de pouco poder econômico fundou a entidade para poder conviver isolada da sociedade branca, devido à discriminação racial e econômica. E até o início do projeto, continuava isolado.
– Com o Ponto de Cultura, quisemos inverter essa lógica. Se tivemos de fundar o CTG devido a uma necessidade de separação racial e econômica, agora nós íamos abrir as portas para todos os jovens e adultos que quisessem participar de oficinas, promovendo uma integração cultural no lugar da separação – disse.
Infelizmente, em 2017, com os recursos acabando, e depois com a pandemia, o Ponto de Cultura precisou interromper seu funcionamento. Após esse hiato, realizou apenas mais uma atividade, em novembro de 2022: uma oficina de produção artesanal de bonecas em pano, ministrada pelo artesão Sérgio. Mas agora, com dois projetos aguardando aprovação – um sobre indumentária feminina e outro de crochê – já se prepara para voltar à ativa.
– Com o curso de indumentária feminina, queremos colocar no mercado o que for produzido, com intuito de gerar renda para o Ponto de Cultura. Já com o de crochê, queremos profissionalizar pessoas, para que possam encontrar seu sustento, pois o crochê está na moda e já existem muitos profissionais sobrevivendo dele – afirma Vanda.
Sobre a data de retorno, ela disse que ainda está em fase de planejamento e de arrecadação de recursos, mas que a expectativa é de que pelo menos o curso de crochê comece até o fim desse mês.
Fotos: Luiz Felipe de Oliveira