Parque Municipal da Pedra do Segredo será um dos lugares visitados

Por Tisa de Oliveira

De 06 a 11 de novembro, Caçapava receberá avaliadores internacionais para uma visita técnica em busca do selo do Programa de Geoparques Mundiais da Unesco.

A equipe que coordena o projeto do Geoparque Caçapava é formada por representantes das instituições responsáveis pela implantação: da Prefeitura, estão o secretário de Cultura e Turismo, Stener Camargo, seu adjunto, Erni Freitas, a secretária Geral, Cássia Freitas, e Alizandra Dazmann, coordenadora local do projeto; da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), André Borba, professor e coordenador científico, Patrícia Ferreira, administradora da Pró-Reitoria de Extensão, e Bibiana Skiavini, Turismóloga; e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Marcelo Luza, geólogo do Geoparque, Felipe Guadagnin, coordenador do Geoparque na instituição, e o diretor do campus Caçapava, José Rojas

Os avaliadores integram o Conselho da Rede Mundial de Geoparques, que realiza as avaliações técnicas no âmbito do Programa Internacional de Geociências e Geoparques (IGGP) da Unesco.

De acordo com Borba, que além de fazer parte da coordenação científica foi responsável pela elaboração do dossiê da candidatura, os avaliadores visitarão locais geológicos e atrativos do município: pontos históricos e culturais.

Agenda

No primeiro dia, o grupo ficará na área urbana, visitando o Centro Histórico, o Forte e a Chácara do Forte. Participarão de um almoço com apresentação cultural e, em seguida, visitarão as Caieiras e a Toca das Carretas. Na Fazenda Don José, a equipe fará um passeio nos olivais.

No dia seguinte, a programação envolve avaliações na Serra do Segredo, no Parque Municipal da Pedra do Segredo, na Casa de Cultura Juarez Teixeira e no Clube Harmonia, onde os coordenadores irão montar uma exposição sobre a comunidade negra de Caçapava. A hospedagem será na Vila do Segredo, local escolhido também para reuniões.

No terceiro dia, as regiões visitadas serão Guaritas, Minas do Camaquã e Fazenda Novelaria Santa Marta. O pernoite será no Guaritas Hostel.

“Não são turistas, são avaliadores do território. Por isso, queremos proporcionar uma boa estadia para eles em Caçapava, que conheçam o território, as pessoas, a cultura”, explicou o professor.

No que se refere à geologia, Borba explica que está tudo exposto no dossiê. Agora, os técnicos vão ter contato com os aspectos geológicos e geomorfológicos, sendo que o principal item a ser avaliado é a qualidade da estratégia, “o quanto o Geoparque e a nossa estratégia estão integrados com as pessoas e com a comunidade local; com os empreendedores; se estamos produzindo geoprodutos; se estamos sabendo nos comunicar; a visibilidade; o orçamento do Geoparque; as atividades que estão sendo feitas; as iniciativas de geoeducação, de geoturismo e de geoconservação. Enfim, tudo que está sendo feito no Geoparque nestas dimensões. Então, vão avaliar muito mais a estratégia do que a geologia em si, pois quanto a isso, temos certeza de que ela é de nível e importância internacional”, atesta.

Como será a avaliação

Os avaliadores irão verificar se tudo está sendo desenvolvido como tem de ser, se as ações estão indo bem ou não. Dentro do projeto, há espaços que a coordenação pretende criar, como o Centro Interpretativo nas ruínas do antigo Clube Recreativo.

“Eles querem ver este projeto, analisar se é viável a construção, se temos condições de construir. É este o tipo de avaliação, se estamos sendo efetivos e competentes na estratégia, que tem uma série de requisitos dentro do Programa Internacional de Geoparques da Unesco”, pondera o coordenador.

A equipe está otimista em relação a conquista do selo e acredita que tem bons planos e objetivos a curto, médio e longo prazo.

“Nós temos todas as condições de sermos certificados com o selo de Geoparque da Unesco. Sabemos que estamos num município pobre, de uma região pobre do Sul do País, com dificuldades de infraestrutura e de orçamento, mas estamos otimistas em demonstrar que aquilo que fizemos, dentro das condições que temos, fizemos bem feito. Temos bons projetos, com plano de gestão para melhorar Caçapava. A cidade tem uma excelente comunidade artesã, que está fazendo um ótimo trabalho com os geoprodutos. Temos excelentes empreendedores, principalmente as mulheres. Todas elas estão trabalhando firme no Geoparque”, comemora.

Além destas parcerias, o projeto está trabalhando em conjunto com as escolas e com os olivicultores, porque embora a olivicultura não seja um mérito do geoparque, este setor complementa as ações.

“Queremos mostrar esta integração do olivoturismo com o geoturismo, como elemento agregador”, destaca.

Depois da visita da Unesco

Os avaliadores irão gerar um parecer descritivo sobre se o projeto atende ou não os requisitos da Unesco e colocar a pontuação numa tabela. A coordenação fez uma autoavaliação em novembro de 2021, e os avaliadores irão refazê-la, na mesma planilha.

“A avaliação deles pode ser diferente da nossa; podem dar mais ou menos pontos do que a gente se deu. Mas o relatório que eles vão dar indicará o que está bom, o que está ruim, o que está ruim e pode melhorar, o que está ruim e precisa melhorar. Os técnicos não dão um resultado de sim ou não. Este parecer vai para outro órgão do Conselho Executivo do IGGP, que irá avaliá-lo, de acordo com o dossiê, com outras informações que eles têm e, então, endossarão ou não a nossa candidatura. Caso ela seja aprovada, a decisão é tomada pela assembleia da Unesco”, explica Borba.

A coordenação do projeto recebeu, inclusive, um aviso nas diretrizes da visita de que é aconselhável que os territórios tenham cuidado para, em nenhum momento, pressionar os avaliadores por um resultado.

“Eles podem dar entrevistas, dizer o que estão achando do território, mas não podem ser pressionados, até porque o parecer deles não tem força para isso. É uma opinião sobre se a gente cumpriu ou não os requisitos e se nos avaliamos de maneira adequada”.

O que representa ter o selo

Para Caçapava, o selo de Geoparque da Unesco significa o reconhecimento de que o município é uma sala de aula ao ar livre para todas as ciências da terra.

“É um território importante não apenas no nível municipal, regional ou nacional. Durante a visita, uma turma da Universidade Federal de Santa Catarina estará aqui, estudando geologia. Temos reconhecimento internacional de que a nossa geodiversidade, nosso patrimônio natural é realmente de excelência e representa algo único. Além disso, o projeto tem a perspectiva de melhorar a situação de trabalho e renda de muitas pessoas. Turismo é uma indústria importante no país e no mundo. Queremos movimentar as pessoas que vêm passear, que vêm de várias regiões do Estado. Não para um turismo de massa, mas para um turismo consciente, sustentável, que valoriza os produtos locais. Ser Geoparque é também valorizar os produtos locais, os artesãos locais, atrair investimentos para melhorar a infraestrutura do município, tendo espaços culturais, mirantes nas rodovias. As perspectivas de futuro são o que nos faz acreditar que vai ser bom para Caçapava ter o selo da Unesco. São experiências turísticas e educativas”, analisa.

A visita dos avaliadores terá a presença de duas tradutoras da UFSM; a conversação será realizada em inglês. Além do grupo que os acompanhará, outras pessoas e instituições poderão participar. Os avaliadores terão contato com a comunidade local em diferentes momentos.

Cidade será beneficiada com a conquista do selo

Otimista com o processo de avaliação e de reconhecimento do território, o secretário Stener Camargo e sua equipe estão preparados para receber os avaliadores. Muito antes de o município se candidatar ao selo, em outubro de 2021, a Administração, em parceria com a Unipampa, iniciou uma mobilização para sensibilizar a comunidade sobre a importância de ter um território singular, com representação a nível internacional para a área das geociências. Acompanhe a entrevista:

Gazeta – O que é um Geoparque?

Secretário – Um Geoparque é um território “vivo”, com uma geodiversidade singular e com relevância internacional, e que, a partir deste patrimônio, projeta uma estratégia de desenvolvimento sustentável, pautada na educação, no meio ambiente e no desenvolvimento econômico das comunidades. O Geoparque é uma estratégia feita por pessoas para as pessoas.

Gazeta – Que benefícios o selo da Unesco trará para o município?

Secretário – Os geoparques visam estimular a geração de emprego e renda para as comunidades locais através da valorização da sua história, da sua cultura e do seu patrimônio, incluindo a promoção e o incentivo de artesanato típico, da gastronomia local e de festividades tradicionais. Temos relatos de outros geoparques em que o número de visitantes, após o reconhecimento, triplicou. Teremos mais pessoas consumindo produtos e serviços no território e na região.

Gazeta – Como serão as avaliações?

Secretário – Essa visita é realizada por dois avaliadores indicados pelo IGGP. No caso de Caçapava, os avaliadores serão Mahito Watanabe, geólogo do Serviço Geológico do Japão, e Antonino Sanz Matencio, diretor do Geoparque Mundial Unesco Sierra Norte de Sevilla, na Espanha. O território representado pela UFSM, pela Unipampa e pela Prefeitura elaborou um roteiro de visitas nos principais geossítios do município.

Gazeta – São visitas técnicas?

Secretário – A visita é totalmente técnica. Haverá uma equipe que acompanhará todos os momentos da avaliação e uma equipe de apoio. Também haverá alguns momentos com os parceiros do Geoparque Caçapava e com autoridades locais.

Gazeta – Depois deste processo, em quanto tempo a Unesco informa se o selo foi conquistado?

Secretário – Acreditamos que até dezembro teremos a resposta. A partir deste momento, em caso positivo, participaremos da rede mundial de Geoparques.

Foto: Heron Freitas