A Guerra Civil de 1835 durou 10 longos anos. Após a pacificação, em março de 1845, a Província estava destroçada. O sistema de produção, antes mesmo de Imperiais e Farroupilhas se engalfinharem em combates sangrentos, tinha entrado em colapso. Em 1828, a Guerra da Cisplatina – que levou à separação da Banda Oriental e à formação da República do Uruguai – aboliu a escravidão naquele território. Milhares de escravos da Província de São Pedro fugiram para o Sul, em direção ao Rio da Prata, em busca de liberdade.
A situação se agravou mais com a Guerra dos Farrapos. Os rebeldes prometiam que, após a vitória contra o Império do Brasil, os combatentes negros seriam libertos. Mas a derrota dos Republicanos frustrou os planos da soldadesca negra. Mesmo a assinatura do vergonhoso Tratado de Ponche Verde não garantiu a liberdade dos negros. Nenhum dos artigos do documento que tratava da soldadesca foi cumprido, o que resultou na reescravização dos combatentes negros e na sua posterior venda nos mercados do centro do país.
Mais uma vez, milhares de veteranos negros da Guerra Civil fugiram para o Sul, criando uma série de problemas sociais, estruturais e diplomáticos para Uruguai e Brasil.
Abaixo, transcrevemos uma Circular do pós-Guerra, de 1847, enviada para Camara dos Vereadores da Vila de Caçapava. O texto mostra a importância da mão de obra escrava, o descontentamento dos grandes proprietários rurais com a fuga dos negros escravizados para a República do Uruguai, e os trâmites burocráticos sugeridos aos Fazendeiros da Fronteira pelo Governo Imperial do Brasil, para tentativa de recuperação dos ex-cativos que se encontravam em território castelhano.
O texto foi transcrito mantendo a grafia original. Os documentos se encontram salvaguardados no Arquivo Histórico Municipal Nicolau Silveira Abrão. A Casa de Cultura Juarez Teixeira possui cópias digitalizadas.
Circular do Exmo. Presidente da Provincia sobre os escravos que d’esta Provincia se evadem para o Estado Oriental dacta 27 de Novembro de 1847
Circular
Tendo-se representado ao Governo Imperial prejuizo que resulta aos Brazileiros Fazendeiros da Fronteira da fuga de escravos de sua propriedade para o Estado Oriental, e a difficuldade de os reclamar das authoridades do mesmo Estado, me foi respondido pela Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros em Avizo de 11 do corrente, que para se reclamar das authoridades daquella Republica a sua entrega, devem os respectivos senhores juntar a seus requerimentos authentica de que semelhantes escravos fugirao ou forao para isso seduzidos ou aliciados; ou finalmente furtados e constrangidos a abandonar as cazas dos seus Senhores; o que V.M Ces farão constar aos moradores do seu Municipio pelos meios que mais próprios lhes parecerem para divulgação desta noticia.
Deos guarde V.M Ces
Palacio do Governo em Porto Alegre 27 de Novembro de 1847
Manoel Antônio Galvão
Senhores Presidente e mais Vereadores da Camara Municipal da Villa de Caçapava