Vivemos num mundo totalmente conectado, aonde as informações chegam a todos os rincões numa incrível velocidade. Nem sempre foi assim. O grande “boom” da comunicação aconteceu com a disseminação e popularização do rádio, em meados dos anos 1930.
Antes do rádio, a forma de comunicar se reservava ao escrito. O jornal era o grande meio de comunicação e existiam dezenas deles circulando pelo Estado. Publicações de caráter político, policial, social e cultural.
Muitos destes materiais impressos chegaram até nós e são riquíssimos materiais de pesquisa, pois retratam a organização da sociedade, as relações sociais, os valores e cotidiano das pessoas do início do século XX
Em 1921, um dos jornais que começou a ser impresso em Caçapava se chamava “A Thezoura” e se autointitulava o “Orgam das Más Linguas”. Este jornal de quatro páginas era escrito a várias mãos e recebia da população material para suas colunas. Nele, a coluna Graças e Troças era um espaço para a catarse pública, para a fofoca e o mal dizer. Nesta edição, transcrevemos uma poesia publicada em “A Thezoura”, em 01 de janeiro de 1922, de um tal Zé Anil – possivelmente o codinome de um dos editores do jornal – para o “Filintro”, um mulherengo falastrão da nossa cidade. Documentação transcrita graças à parceria entre a Casa de Cultura Juarez Teixeira e o Arquivo Histórico Municipal Nicolau Silveira Abrão.
O texto foi transcrito mantendo sua grafia original.
Graças e Troças
O que muito me arrelia,
E’ a pôse de Filintro;
Dizer que tem mil guryas
E ser cidadão disticto.
O que muito me arrelia,
E’ a pôse de Filintro.
O nosso heróe è medonho
Pois quer mesmo ser Cupido,
Namoraria o demonio
Si este lhe desse ouvido
O nosso heróe è medonho
Pois quer mesmo ser Cupido.
Não pode vae, camarada,
Deixa-te destas loucuras,
Que a Thezoura é bem afiada,
E cortando…não tem cura.
Não pode vae, camarada,
Deixa-te destas loucuras.
Leia bem estes versinhos
E não queiras encabular,
Mas cuides teu casaquinho
Para a Thesoura não cortar.
Leia bem estes versinhos
E não queiras encabular.