A médica infectologista caçapavana Darlene Valcarenghi Reck, de 59 anos, está participando dos testes da vacina para Covid-19 CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Insituto Butantan.

Darlene nasceu em Caçapava, mas, aos 13 anos, foi morar em Porto Alegre para cursar o ensino médio. Ela formou-se em Medicina pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) em 1987 e atuava como servidora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Bagé até outubro deste ano, quando se aposentou e retornou a Porto Alegre.

Confira a entrevista concedida à Gazeta pela médica:

Como foi o processo para participar do teste?

Havia propaganda na mídia para teste em profissionais da saúde. Colegas da faculdade e eu fizemos o cadastro e fomos aprovados para esse estudo. No cadastro, enviamos os dados pessoais, como profissão e ausência de doença prévia. Na primeira visita, fizemos exames para descartar Covid-19 e, então, recebemos a dose. Há um termo de consentimento com todas as informações sobre riscos. [Os voluntários são divididos em] dois grupos: um recebe a vacina; outro recebe placebo (que é um produto inócuo). Ninguém sabe o que recebeu.

Como e por quanto tempo é feito o acompanhamento?

No início, as visitas ao centro de pesquisa são quinzenais. Depois, passam a ser mensais. Preenchemos um “diário”, no qual informamos sobre sintomas ou possíveis efeitos da vacina, que são analisados pela equipe.

Quando você tomou a primeira dose?

Há um mês, seguida da segunda dose 15 dias depois. Agora, é só observar os efeitos e fazer as dosagens de anticorpos que irão surgir ao longo dos próximos meses.

O que você sentiu? Teve algum efeito colateral?

Não, nenhum.

Você teve contato com pessoas contaminadas?

Sim, com várias. Fiz teste, que foi negativo, pois mantive distância adequada.

O que você poderia nos contar sobre participar deste estudo?

Participei da pandemia de cólera em 1991 e 1993. Eu era sanitarista no Estado do Tocantins. Então isso me motivou a fazer a residência em Manaus, onde passei a atender centenas de casos de cólera. Depois, vivenciei a pandemia da gripe H1N1 em 2009. Essa, eu peguei e tive muito medo, pois ainda não havia o tratamento com Tamiflu. Agora, decidi fazer parte da história novamente, mas “do lado de cá”, como observadora. Passo a contribuir com a análise de um produto que poderá salvar vidas, o que é muito empolgante e emocionante, já que há riscos.

Qual a sua expectativa em relação à vacina?

A CoronaVac não necessita temperaturas baixíssimas para a sua manutenção, o que dá vantagem em relação às outras, já que moramos em um país quente, onde a energia elétrica nem sempre está presente. Não sabemos sobre todos os detalhes, mas dizem que a eficácia é superior a 90%, o que a torna muito boa. Restará saber se os anticorpos induzidos por ela irão permanecer atuantes por um bom período.

Como médica, como está sendo atuar durante a pandemia? O que você recomenda para as pessoas nesse momento?

Trabalho com o monitoramento e orientação aos casos suspeitos em várias clinicas. Afirmo que manter distância entre as pessoas e usar máscaras são os principais métodos de prevenção da Covid-19. As máscaras devem ter forro para melhorar a eficácia. Digo que lavem as mãos com água e sabão sempre que possível e deem um passo para trás ao conversar com outras pessoas para aumentar a distância. A saúde da coletividade depende de cada um de nós.

Por Iara Menezes