Cada vez mais velhos

Quando fui prefeito, havia em Caçapava quatro mil passes livres para gratuidade no transporte urbano para aposentados. Considerando que muita gente idosa não andava de ônibus, e por isso mesmo não solicitava tal benefício, devia existir um número bem maior de anciãos em nossa cidade

Li no Correio do Povo de 28 de setembro de 2023: a população brasileira está ficando mais velha. Uma pesquisa nacional, divulgada em 2022 pelo IBGE, demonstrou que a média de idade da população brasileira está aumentando. Entre 2012 e 2022, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 22,3 milhões para 31,2 milhões de indivíduos em todo o Brasil.

Me recordo que, quando fui prefeito, entre 2009 e 2012, havia em Caçapava quatro mil passes livres para gratuidade no transporte urbano para aposentados. Considerando que havia muita gente idosa que não andava de ônibus, e por isso mesmo não solicitava tal benefício, devia existir um número bem maior de anciãos em nossa cidade.

Antigamente, as populações cresciam porque as famílias tinham muitos filhos para ajudar na lavoura e na lida de casa, mas, com o tempo e com a urbanização da população que deixou o campo, mudou o modo de vida, os empregos escassearam, o custo de vida aumentou pela mudança dos hábitos de vestir, de gastar e de consumir das pessoas, e o número de filhos diminuiu. Poucas famílias podem se dar ao luxo de encher a casa de crianças, como acontecia antigamente. A responsabilidade na educação cresceu, e a sociedade mudou aquela estrutura familiar do inicio do século XX. Criar e educar um filho na atualidade custa muito caro, e não se pode permitir que ele vague pelo mundo sem instrução adequada, à espera de uma oportunidade caída do céu. É preciso investir no futuro dos nossos descendentes quando novos.

Já são mais de 31 milhões de velhinhos comendo sem produzir, ganhando do governo, tomando remédio, engrossando as filas da saúde e assim onerando o setor produtivo pelo País a fora. Sim, eu sei que essa fatia que também viaja, passeia, se diverte, dança, critica e é pouco escutada pelo povo que manda já contribuiu e já trabalhou para enriquecer o país. Ninguém tem mais tempo e paciência para escutar os mais velhos, para ouvir conselhos e estórias do tempo de antanho.

Quase ninguém mais se orgulha do seu pai ou do seu avô quando ainda estão vivos. Fingem que eles tinham importância somente depois que morrem, talvez até por peso na consciência ou uma tentativa de resgate de uma memória que já foi desmemoriada, como uma justificativa familiar.

Mas, caro leitor amigo de todas as sextas-feiras, isso não acontece por maldade, premeditação ou desforra. Ninguém consegue desgrudar do celular. Todo mundo precisa trabalhar sempre e cada vez mais para conseguir pagar as contas. O mundo virou uma pequena aldeia, onde não é difícil circular por ela na busca de melhores dias. É preciso sair de casa, da cidade, do Estado e até do país em busca de emprego, de dinheiro e de realizações.

Minha mãe, quando veio morar comigo aqui na cidade, com 83 anos, pedia que eu parasse mais para conversar com ela, rememorar, destrinchar relações e parentescos distantes: “Para, vamos conversar, tu parece que tá elétrico, nem fala direito com a gente…”

Eu não podia parar, porque tinha de resolver assuntos da Prefeitura, das pessoas, da Saúde, das estradas e até da minha casa. A minha mãe vivia em outra velocidade, com outra agenda de matear à tarde, conversando com as vizinhas idosas que lhe visitavam.

Um belo dia, ela me chamou, preocupada, quando cheguei para almoçar as duas horas da tarde:

‒ A comadre ‘fulana’ disse que a minha casa vai cair, por causa dessas rachaduras aí acima da porta.

‒ Mãe, como é que vai cair se é de pranchada…

‒ Ah, mas ela disse, e eu é que não vou ficar embaixo dessa geringonça, arriscando morrer esmagada…