Por Tisa de Oliveira

Quem tem doguinhos em casa não tem dúvidas sobre o bem que eles fazem: são companheiros, carinhosos e por que não dizer que fazem milagres? Esta ideia não está mais restrita somente àqueles que amam os pets, o conceito foi parar nas escolas especializadas.

A Cinoterapia ou Terapia Facilitada por Cães (TFC) é uma atividade que utiliza o cão como facilitador no processo terapêutico e educacional. A Apae oferece este tipo de atendimento desde setembro de 2020 através do trabalho realizado pela fonoaudióloga Thais Teixeira e pela terapeuta ocupacional Mayra Biagini.

A proposta de inserir os cães nos atendimentos surgiu por meio do Projeto PET ao TEC: Alternativas Terapêuticas, que é desenvolvido com recursos do Fundo da Criança e do Adolescente (Fundica). A partir daí, foram realizados cursos, a capacitação dos profissionais e o treinamento dos cães terapeutas.

 

A seleção do cão terapeuta

Cão terapeuta Stella atenta à leitura e às instruções do livro

 

Os cães que participam do projeto são pets de famílias caçapavanas, cedidos nos dias de atendimentos. Eles são avaliados, selecionados e direcionados para adaptação, recebem treinamento e, somente depois, entram em contato com os alunos.

A escola iniciou o trabalho com a cão terapeuta Stella, que contribuiu com as atividades até o final de 2021. Neste ano, foram realizadas atividades com as cães terapeutas Pimpim e Mandinga e, no momento, o Apollo, um cão da raça Pug, exerce a função.

Apollo era reprodutor de um canil quando foi descartado, aos quatro anos. Remaldo e Iracema Cassol foram quem o adotaram; mas ele mora com a filha do casal, a professora Lorena, e já se integrou à família canina dela. Ele é um cachorro dócil e carinhoso, que gosta de brincar com a Alberta, sua irmã.

Para fazer parte do projeto, o cão terapeuta deve ter o perfil do Apollo: ser calmo e pacífico. Além disso, deve ser capaz de lidar com diferentes faixas etárias. Antes dos cães serem inseridos, existe um protocolo a seguir, que envolve saúde, higiene e bem-estar animal. Para isso a Apae conta com a colaboração e a parceria da Clínica Veterinária Dhama.

Maiara Ben Pilotto, médica veterinária e sócia da Clínica, explica que a condição para o pet se tornar um cão terapeuta depende de seu temperamento. De acordo com a profissional, as raças mais utilizadas na Cinoterapia são o Labrador e o Golden devido à docilidade.

“Desde que se encaixem nos critérios, outros cães podem ser inseridos. O ideal é de que, desde filhote, o cão seja estimulado à interação social. Porém, os cães adultos e idosos são os mais utilizados em função da maturidade”, esclarece.

A veterinária salienta que a interação homem–animal proporciona relaxamento e espontaneidade, além de melhorar a comunicação e o desenvolvimento da autoestima do paciente.

“O cão, assim como as pessoas, quando estabelece uma relação, cria formas de comunicação. Expressa sentimentos, dores, angústias, satisfações, desaprovações… Por isso é a espécie mais utilizada. Eles são de fácil adestramento e maior aceitação pelas pessoas”, destaca a veterinária.

 

Os atendimentos

Cães terapeutas despertam emoções: riso fácil, relaxamento, espontaneidade

 

“São realizados atendimentos semanais e individuais com pacientes selecionados previamente, de acordo com avaliação interdisciplinar. Além disso, também são realizadas atividades com grupos de alunos, nas salas de aula e nos diferentes ambientes da instituição”, revelam as profissionais da Apae.

As atividades são planejadas de acordo com a necessidade de cada paciente e com os objetivos a serem alcançados.

“Num primeiro momento, é realizada a apresentação do cão terapeuta ao paciente. A maioria das reações é positiva, os pacientes são bem receptivos e adoram a presença do cão terapeuta. Em alguns casos específicos, em que as crianças, em um primeiro momento, apresentam certa insegurança ou medo, é realizado um trabalho de adaptação, no qual podemos observar que, com a continuidade dos atendimentos, a criança se aproxima e naturalmente cria um laço afetivo com o cão. Essa relação que surge entre o animal e os atendidos faz com que este cultive sentimentos de cuidado, confiança, estima e reconheça o mesmo como um amigo”, conta Mayra.

Na Cinoterapia, “o cão é base para liberação de muitos estímulos”, destaca a terapeuta. “Estas condições de alegria que o cão demonstra, juntamente aos objetivos traçados, proporcionam muitos benefícios, como a melhora na motivação, na comunicação, na socialização e na interação social”, completa Thais.

“Nas crianças com Transtorno do Espectro Autista, os cães podem proporcionar senso de autonomia, valor próprio, melhor reconhecimento de si e, embora muitos desses pacientes não falem e tenham aversão ao toque, a Cinoterapia pode melhorar a capacidade de comunicação e a sensibilidade”, avaliam as profissionais.

O resultado terapêutico, segundo elas, pode ser observado em relação aos aspectos emocionais e sociais dos pacientes, sendo que somente a presença do animal pode produzir efeitos espontâneos e inesperados.

Fotos: Apae/Divulgação