Em primeiro lugar, meus parabéns pela vitória inédita: o primeiro governador do RS reeleito para o cargo, ou o segundo, se contarmos com Borges de Medeiros, que se valia dos votos de cabresto. Desta vez, porém, com toda a lisura das urnas e a vontade soberana do povo gaúcho.

Sua campanha eleitoral pautou-se em promessas viáveis, alicerçadas em leis e disponibilização de verbas para sua execução. A preocupação demonstrada pelos cidadãos das classes mais humildes, planejando aumentar o salário regional, o vale-refeição e o vale-transporte, é digna de louvor; um avanço para diminuir as desigualdades de renda e um passo a mais para a democratização.

Entretanto, algo parece ter sido esquecido. Quem paga a esses assalariados, prestadores de serviço, domésticas, cuidadores de idosos e de doentes? Porque a maioria de tais empregos é dessa natureza. As famílias de classe média empregam diaristas para não assumirem os encargos sociais. Em muitos casos, valem-se de escolas de turno integral para deixarem seus filhos menores e poderem sair de casa para o trabalho.

Mas uma classe que não pode dispensar tais serviços é a dos aposentados, pessoas de idade avançada, inválidos, que já criaram seus filhos, e estes constituíram novas famílias a quem lhes cabe sustentar. E seus pais aposentados ficam sozinhos e dependem de acompanhantes e cuidadores para sua própria segurança.

Com o respeito que lhe voto, Sr. Governador, ouso dizer que suas medidas de ajuste fiscal, contenção de despesas de seu governo anterior e o milagre que conseguiu ao pagar os salários do funcionalismo estadual em dia oneraram por demais a classe dos professores aposentados. No seu entender, eles não precisam mais locomover-se para o trabalho, gastar com vestuário, alimentação fora de casa e outros itens. Enfim, não trabalham, desmerecem aumentos, porém suas despesas excedem mais de cem por cento seus parcos vencimentos pelos gastos com a saúde, tratamentos, remédios e esses acompanhantes indispensáveis para suas necessidades básicas.

Sr. Governador, considere quantos desses aposentados terão de recorrer a asilos por não conseguirem manter esses funcionários. Quantos terão de deixar suas casas – financiadas e quitadas após 30 anos de prestações – onde recebem seus filhos, netos e bisnetos em datas memoráveis, que lhe alegram os corações?

Sr. Governador, de mente aberta, preparo intelectual e político admiráveis, mas principalmente de solidariedade humana, reflita sobre nossa situação e encontre as soluções cabíveis. Se nossos vencimentos se igualarem aos dos professores e funcionários ativos, tenha a certeza: não faltarão empregos, nem contribuições sociais à classe de assalariados que tanto V.S.ª prestigia. O comércio será enriquecido, como antes, com nossas compras – presentes aos filhos e netos –, pontualidade nas prestações, acolhimento às promoções; e a sociedade poderá contar com nossa colaboração nas campanhas de caridade. Enfim, continuaremos a ser a freguesia mais confiável de suas áreas.

Que Deus o abençoe e ilumine, para que nosso RS volte a ser exemplo de seriedade, honradez e progresso social e econômico para todo o Brasil.