Causo ou case

Na verdade, a humanidade evoluiu – e continua evoluindo – aceleradamente, com predominância da modernidade e com o lastro invisível na tecnologia cibernética

Dia desses, recebi um convite para integrar uma turma de afins que fariam realizar uma primeira reunião para contar causos. Que grande ideia do meu amigo, professor João Henriques, oriundo da Varzinha e, por certo, herdeiro de um tempo de criação a campo fora no interior que hoje nem existe mais.

Na verdade, a humanidade evoluiu – e continua evoluindo – aceleradamente, com predominância da modernidade e com o lastro invisível na tecnologia cibernética.

O salto de qualidade desse fenômeno mundial aconteceu no pós Segunda Grande Guerra. O mecanismo de funcionamento das coisas, eletrodomésticos, implementos, automóveis, etc., que antes eram movidos por intrincados mecanismos engenhosos e criativos, deu lugar para circuitos e chips capazes de operar quase milagres, mediante a combinação de sinais binários, sem limitação da capacidade inventiva.

Aumentou a produtividade e simplificou a manutenção dos conjuntos. Passou do tempo de reparar e de consertar para o do simplismo da substituição. Mas nem todo mundo domina e produz esses novos sistemas tecnológicos. Os países asiáticos vêm liderando essa tecnologia e a produção de componentes, e o terceiro mundo – ou subdesenvolvido – é largamente dependente dessas importações. O Brasil produz commodities, carnes, soja, calçados e minérios não industrializados, e para isso precisa das tecnologias importadas, para aumentar a sua produtividade.

Os causos, que até já andam sendo apelidados de “cases”, podem e devem se constituir no resgate histórico de tempos passados, quando a vida era muito mais “interessante” para interioranos e gente mais autêntica no seu jeito de viver de a cavalo, na simplicidade do mundo rural.

É preciso que saibamos usar e usufruir das facilidades do mundo tecnológico deste século XXI, vivendo com mais conforto e até melhores condições de vida. Ninguém pode negar ou se furtar a compartilhar dessa assertiva, mas as nossas raízes culturais, as ditas Tradições, não podem deixar de ser lembradas, sob pena de perda ou desvirtuamento da nossa identidade sulista.

Acredito que esta Reculuta de Causos vai ajudar a reescrever um tempo bueno da nossa Sentinela dos Cerros, tão rica e tão presente na construção da identidade gaúcha, bem alicerçada em nossos usos e costumes patrimonialistas e perenes.

Quem sabe, na próxima Semana Farroupilha em Caçapava, já não aconteça uma rodada de causos ao redor de algum fogo de chão, no aconchego do galpão de um dos nossos CTGs?

Ah, já ia me esquecendo, aproveitei a olada para relatar alguns que conheço, enfeito e floreio para entreter a plateia participativa e curiosa. Porque todo contador de causos também é um pouco mentiroso, na busca da originalidade.