Estamos há seis meses convivendo com um vírus causador de uma doença respiratória que varia de um resfriado comum a uma pneumonia fatal. Covid-19, coronavírus ou até mesmo inimigo invisível, não importa o nome dado. O fato é que se trata de um vírus que nos obriga a lutar sem armas, já que não há vacina para combatê-lo. Para piorar as pessoas estão sentindo-se mais livres e relaxando nos cuidados. Deixando de lado as orientações de proteção, principalmente o uso de máscara. Gradativamente a população está perdendo o medo ou pensa que porque está cansada a pandemia foi embora.
Doenças podem ser potencializadas com a Covid
O assessor parlamentar Mateus Lopez contraiu o vírus em julho. A mãe testou positivo e ele também, pois convivem na mesma casa. Mateus teve dor de cabeça, febre, vômito, dor no corpo e coriza. Precisou tomar antibiótico e ficou 17 dias em isolamento.
“Foram dias horríveis, não saía de dentro de casa. Não conseguia me alimentar, pois tinha muita náusea. Depois desse período realizei diversos exames e fui diagnosticado com insuficiência renal. Estou fazendo sessões de hemodiálise três vezes na semana. Meus rins estão funcionando, mas não estão filtrando as toxinas do sangue. Não posso afirmar que foi sequela da Covid-19, pois já tinha indicação para fazer uma avaliação. Sigo fazendo exames toda semana para acompanhar o funcionamento renal”, conta Mateus.
Além do vírus pacientes enfrentam o medo e a solidão
O Secretário de Obras Acidemar Mello, também contraiu o vírus de um familiar. A esposa foi a primeira e, ao cuidar dela, ele se contaminou, mesmo tomando todas as precauções. Os primeiros sintomas que teve foram febre e diarréia. Neste período procurou a Unidade de Saúde que pertence e ficou em observação. Quando começou a piorar foi na tenda de triagem e dois dias depois já estava com 57% dos pulmões comprometidos.
Ele foi internado no Hospital de Catidade Dr. Victor Lang, na área reservada para pacientes com Covid. Do terceiro dia em diante perdeu a noção do tempo, não sabia que dia e hora era. Teve diarreia, não se alimentava. Os dias foram passando e sentia cada vez mais falta de ar. Precisou de oxigênio pois a saturação não equilibrava. “Senti muito medo. Foram momentos muito difíceis. Perdi onze quilos em 14 dias. Parecia que havia uma guerra dentro de mim, algo querendo corroer meu corpo. Perdi as forças, ficava o dia todo numa posição só, mas sou um homem de muita fé e sabia que tinham pessoas orando por mim”, revela o secretário.
Acidemar afirma que a sensação de solidão é muito ruim e é preciso ter muito equilíbrio emocional para enfrentar o vírus. “Tomei medicação para ansiedade. Hoje agradeço a Deus por estar vivo, por conseguir vencer, mas chegou um momento em que perdi as esperanças”, confessa.
Passado um mês, Acidemar conta que fez fisioterapia porque não conseguia caminhar. Precisava fortalecer as pernas, “não conseguia andar ligeiro, se atravessava a rua rápido demais tinha que parar do outro lado para recuperar o fôlego. Ainda estou recuperando a força, a massa muscular. Consegui recuperar três quilos. Estou me alimentando bem, tomando vitaminas. Fiquei com tremura nas mãos e estou tomando remédios para a ansiedade. Não posso me resfriar ou gripar, estou em recuperação. Daqui um mês vou procurar um pneumologista para fazer exames mais detalhados. Fica meu conselho para as pessoas que ainda pensam que é uma simples gripe e que não dá nada: não é assim, cuidem-se!”, alerta o secretário.
Sequelas emocionais são maiores que as físicas
A enfermeira Franciele Casanova, coordenadora geral da enfermagem do Hospital de Caridade Dr. Victor Lang, destaca que as sequelas emocionais são maiores que as físicas, principalmente nos profissionais da saúde. “A maioria dos profissionais teve perda de paladar e olfato, que prosseguiu de 20 a 30 dias após a doença. Uma colega está monitorando problemas circulatórios pós infecção por Covid-19, mas a maior sequela é a emocional. Ficamos muito abalados e temos que conviver com o medo”. Sobre os profissionais do hospital que se contaminaram e já estão curados, a coordenadora afirma que estão sendo monitorados pela instituição.
Segundo a enfermeira chefe Sandra Bairros, do Setor de Epidemiologia da Secretaria da Saúde, os pacientes que tiveram Covid estão sendo acompanhados pelos médicos das unidades. Sobre os profissionais da linha de frente, a enfermeira destaca que eles estão cansados emocionalmente e com medo de um novo surto. Além da ansiedade, sofrem com agressões verbais e até mesmo física, como a da agente de saúde agredida em agosto. “A população não se dá conta das dificuldades do dia a dia. Olha o boletim, vê que os números estão baixos e acha que a normalidade está voltando”, analisa.
Os desafios encarados pelos profissionais da linha de frente
Os profissionais da saúde encaram os desafios do cotidiano e os impactos da pandemia na profissão, como as longas jornadas, lidar diariamente com a morte e os riscos de adoecer. Abaixo, uma reflexão da psicóloga Luciele Osório Monteiro sobre esse aspecto:
Profissionais da “linha de frente” encaram desafios de saúde mental durante a pandemia, isso é fato e as estatísticas comprovam.
Os profissionais da saúde sempre atendem a uma demanda significativa, cuidar dos outros, muitas vezes traz como consequência exaustão e estresse emocional. Por isso aquele ditado, neste caso, torna-se tão verdadeiro: quem cuida também precisa de cuidado!
E, em tempo de pandemia a sobrecarga emocional e física são ainda maiores. A rotina de trabalho tornou-se ainda mais tensa, sob a influência de um medo real de contaminação (sem falar no medo de tornar-se vetor de transmissão, levando a doença a outras pessoas). Essa situação expõe todos os profissionais a um alto nível de ansiedade, ou seja, a um estado de alerta constante diante de um risco, de um inimigo. O que por um lado é positivo, pois essa ansiedade contribui para tomadas de atitudes de precaução e prevenção, manter-se em estado de ansiedade e tensão por muito tempo prejudica o psicológico e o físico. Além de baixar a imunidade, transtornos de ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout podem ser desencadeados.
Para que estes prejuízos sejam evitados e a tarefa de ser um profissional de linha de frente em tempos tão árduos torne-se mais “leve” é essencial um cuidado com a saúde, também, mental. É preciso, em paralelo às atividades ocupacionais, não deixar de ter acesso a ocupações prazerosas, de autocuidado, de relaxamento, de ócio produtivo e ser filtro, filtrar tudo aquilo que neste momento não irá contribuir, ao contrário, podem ser maximizadores de estresse. E, sobretudo, pensar positivamente sempre. Vislumbrar novas e boas possibilidades para o pós-pandemia, não cancelar os planos e objetivos. E, acreditar sempre que tudo passa!
Luciele Osório Monteiro – CRP 07/16703
Por Tisa de Oliveira -MT 17257/RS