A cidade se anima, vitrines se enfeitam, lojas se enchem de mães, pais, madrinhas e dindos que se empenham nas compras, a fim de encontrar o presente ideal para o seu pequeno. Porém, a moda também comanda as preferências infantis, e os adultos precisam atualizar-se e escolher o que mais lhe agrade.

Mas uma multidão de crianças não tem esta sorte de ganhar o que deseja. Entretanto, pode alegrar-se com o que lhe toca dos brinquedos arrecadados pelas entidades sociais voltadas aos direitos da infância. Sim, porque um desses direitos é o de ser feliz.

Neste mundo dividido entre o Bem e o Mal, a felicidade de uma criança não é tanto pelo que possui de brinquedos e pela vida confortável, pois o que faz alguém feliz é ter carinho, ser aceito e bem recebido em seu meio, onde possa crescer como uma flor que se cultiva com todos os cuidados.

Lembro o caso do menino que invejava um vizinho rico, com mãe elegante, bonita e bem arrumada. Ele se sentia envergonhado porque sua mãe era gorda, sempre de avental respingado e vassoura nas mãos, sem perdê-lo de vista enquanto brincava na rua, e a chamá-lo para o banho, as refeições e a ida à escola.

Certo dia, ele viu a mãe do menino rico sair furtivamente de casa para encontrar-se, logo ao dobrar a esquina, com um homem que não era o seu marido. Ele teve pena do menino rico e do pai dele, um senhor de certa idade, mas que era muito afável com o filho. Ao voltar da escola, neste dia, o menino pobre surpreendeu a mãe com gestos de carinho – tão raros – e um ramo de flores que encontrara pelo caminho.

Minha netinha não gosta de estórias que me acompanharam na infância, como João e Maria, pois fica questionando por que seus pais os abandonaram na floresta. No meu tempo, não lembro se o fato me chocou, pois só queria ver o fim e a maneira como eles escaparam dos perigos.

Outras histórias também eram cruéis, como a da vendedora de fósforos que morreu de frio, na neve, e a do Soldadinho de Chumbo e da Bailarina que foram lançados às chamas… Quando eu contava essa última ao meu filho caçula, ele não aceitava o fim e me fazia inventar um final feliz.

As estatísticas nos mostram o lado triste de nossas crianças. Que passam fome, não têm um lar definido, são exploradas, e o seu direito à escola não é cumprido. Não têm tempo para estudar, pois a cata de alimento é mais importante para sua sustentação. E os heróis de seu mundo são as gangues que comandam as favelas.

Mas criança é criança. Que não lhe falte, em seu dia, motivos para alegrar-se: gulodices, brinquedos, sentir-se acolhido, com direito a sonhar e a ultrapassar barreiras por um ideal. Nossas crianças de hoje venceram tantas etapas, encheram-se de experiências e são mais sábias do que fomos outrora. Elas serão o mundo de amanhã. Que seja melhor do que o nosso.