Estamos avançando a passos largos na quaresma, em direção à Páscoa do Senhor. Quaresma é tempo especial de reflexão, de oração, de penitência e de caridade. Podemos dizer, também, que é tempo de conversão, ou seja, de mudança de vida, de direção, tempo de nos voltarmos ainda mais para Deus.

Durante o período quaresmal, somos convidados a viver intensamente a Campanha da Fraternidade. Já faz 60 anos que a CNBB propõe essa campanha como desafio concreto de vivência da quaresma. E, diante da triste realidade da fome, que está presente e próxima de muitos de nós, a CNBB, pela terceira vez, a traz como tema para ser refletido e, muito mais do que isso, para que a sociedade como um todo busque saídas concretas para acabar com a fome.

O Papa Francisco afirmou que não há democracia enquanto houver fome! A fome é um dos resultados mais cruéis da desigualdade. Cada ser humano que não encontra o necessário para se alimentar é, sem dúvida, um questionamento a respeito dos rumos que estamos dando a nós mesmos e à nossa sociedade.

Infelizmente, milhões de brasileiros e brasileiras ainda experimentam a triste e humilhante situação de não poder se alimentar diariamente, muito menos alcançar aos seus filhos o alimento indispensável de cada dia. Eu, pessoalmente, não faço ideia do que isso significa! Felizmente, tive “oportunidades” que fizeram com que eu nunca passasse por essa situação humilhante e desumana! Mas imagino o quanto deve doer no coração de um pai ou de uma mãe quando não consegue alcançar um prato de comida para seus filhos!

O que mais me assusta diante dessa realidade da fome é o fato de muitas pessoas se comportarem com indiferença, ou seja, não darem a mínima atenção. Já afirmei em outras oportunidades, e afirmo mais uma vez que o grande pecado desse século chama-se “indiferença”! Quando nos tornamos indiferentes diante da dor e da necessidade do nosso próximo, nos distanciamos muito daquilo que Deus sonhou para nós.

Desejo que a vivência da quaresma desperte, em cada um de nós, a solidariedade. Que possamos nos envolver em pequenas iniciativas de combate à fome. Que possamos nos inspirar em Jesus, que alcançou o alimento espiritual e material, e que não nos esqueçamos dos critérios do juízo final, que encontramos em Mt 25, 34-40. “Estive com fome e me destes de comer… Estive com sede, e me destes de beber! Estava nu, e me destes um agasalho. Estava preso, e me visitastes. Eu era peregrino, e me destes hospedaria…”

Pensando bem, nós só vamos compreender o outro na medida em que formos capazes de nos colocar no lugar dele. Nós só vamos entender o que é sentir fome no dia em que não tivermos condições e acesso à comida. Que a fome do meu irmão nos faça pensar e agir! “Dai-lhes vós mesmos de comer”, disse Jesus!