Eu sou daquelas pessoas que não gosta da segunda-feira. Mas essa foi diferente, começou com uma notícia que me deixou muito feliz mesmo: minha dissertação de mestrado foi publicada! Quem, por ventura, ficar curios@ e quiser ler, o link está nas redes sociais da coluna. Começo contando isso porque foi o que me levou de volta à Terra-média e me motivou a falar sobre a obra que analisei na dissertação: O Silmarillion, de J. R. R. Tolkien.

Esse não é o livro mais fácil de se falar – principalmente num espaço tão pequeno –, nem de se ler. Na primeira vez que li, ao fechá-lo após a última página, pensei: “o que foi que aconteceu aqui?”. Espero, com esse texto, trazer algumas informações que ajudem a quem decida se aventurar pelo mundo tolkieniano a não ter muita dificuldade.

O que Tolkien conta em O Silmarillion (OS) se passa muitíssimo tempo antes do que é narrado em O Hobbit (OH) e em O Senhor dos Anéis (OSA). A mitologia tolkieniana se desenvolve ao longo de três Eras. A maior parte de OS se passa na Primeira, mas traz alguns fatos da Segunda e que o ligam às demais obras e à Terceira Era. OH e OSA se passam na Terceira.

Tolkien era católico praticante, apaixonado por mitologia e por línguas desde a infância. Isso tudo se reflete em seu legendarium, que mistura referências às mitologias que ele lia com as de sua fé e, além disso, com as línguas que ele criava desde criança.

Apesar de não ser a primeira obra publicada, O Silmarillion narra o início de tudo, desde a criação de Arda por Ilúvatar (o Ser Superior da mitologia de Tolkien), a finalização do trabalho pelos Valar e pelos Maiar (deuses de segunda e terceira ordem), as tentativas de destruição por Melkor (mais tarde chamado de Morgoth, um deus caído), o surgimento dos Filhos de Ilúvatar (elfos e homens) e as constantes lutas entre todos estes seres.

Algo que o leitor deve ter em mente antes de começar O Silmarillion é que, apesar de ter sido planejada para ser um romance, esta é uma obra inacabada (infelizmente, Tolkien faleceu antes de terminá-la. A versão que conhecemos foi editada por seu filho Christopher a partir de manuscritos e apontamentos deixados pelo autor). Essa particularidade a torna difícil de definir. Eu costumo pensar em seus capítulos como contos que têm um fio condutor, as Silmarils (pedras preciosas criadas por um elfo).

O Silmarillion é riquíssimo de referências, e o que mais gosto nele é que, a cada vez que leio, descubro algo novo e fico pensando “como eu não tinha visto isso antes?!”. É como se fosse uma fonte de inesgotável de conhecimento. Quem está familiarizado com a mitologia bíblica, vai encontrar seus ecos já na primeira frase. Não é de se admirar que Tolkien tenha escolhido começar sua mitologia baseando-se naquela que considerava ser a maior de todas… E quem conhece outras mitologias, tenho certeza que se divertirá tanto quanto eu estabelecendo essas relações.

 

Referência: TOLKIEN, J. R. R. O Silmarillion. Tradução de Waldéa Barcellos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. 470p