Os últimos dias de 2022, quando as famílias se preparavam para as Festas de Final de Ano, viagens, férias, passeios, praias e comemorações alegres, entre amigos e parentes, desta vez, foram atravessados por acontecimentos inusitados, “de última hora”, desagradáveis.

Morreu Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, em todo o mundo, lenda viva e um tanto polêmica da nossa história das Copas – venceu três (1958, 1962 e 1970) e perdeu uma, a de 1966 –, desta vez numa disputa muito dura, talvez a partida mais difícil para a qual tenha entrado em campo, contra um marcador perigoso, o câncer, que não perdoa biografias, nem passado, nem condição econômica, e muito menos história de vida. Foi-se o homem, mas ficou a lenda que, com o passar do tempo, também irá se apagando, como tudo na vida.

Morreu o ex-papa Bento XVI, o Papa Emérito, o único sumo pontífice que se desfez, voluntariamente, do cetro ainda vivo, após a ocorrência de doenças que o prejudicavam no exercício da ação pastoral. A Igreja Católica viveu um bom tempo com dois papas, o que não é uma situação normal e corriqueira para o mundo religioso.

E o ex-presidente Bolsonaro, que viajou para outro país, EUA, e não entregou a faixa presidencial para o seu substituto. Coisa estranha a mudez do candidato derrotado em segundo turno, de um jeito que ninguém esperava, deixando um rastro de atitudes fora de moda para quem não se reelege, pelo menos não usuais. Muita gente de bem, mas equivocada com suas atitudes de aguardar uma virada de mesa política, saiu frustrada desses quase dois meses de vigília na frente dos quartéis, manifestando desconformidade para com o processo sucessório. Se virar moda perder e virar a mesa do jogo, as regras do próprio jogo perdem o seu valor e sua legitimidade. Quando ganha, valem; mas quando perde, não valem mais.

No dia primeiro do ano, o novo presidente subiu a rampa do Planalto cercado de excentricidades em matéria de gente e bicho. A Faixa Presidencial, que é um símbolo nacional, distintivo do cargo de Presidente da República na maioria dos países do mundo, deve ser entregue ou transferida por quem exerce o poder na escala de sucessão regimental da instituição presidencial. Não é um pedaço de pano colorido que qualquer um entrega e coloca a meia espalda de quem lhe parece merecedor, mesmo que seja. Existe uma autoridade constituída na escala hierárquica do Poder Executivo. O povo, nas urnas, autoriza o cidadão a empostar a faixa, mas ela não é propriedade de nenhum de nós, cidadãos eleitores. Ela é uma instituição legal e simbólica. Não devemos inverter os valores de uma sociedade em tempos de desgaste galopante de valores tantos.

E agora, na primeira semana do noviço 2023, acontece uma invasão desvairada às sedes dos três poderes. Um ato simbólico de mau gosto e de mau jeito, sem precedentes em nossa política, com intenções e propósitos ainda confusos. O que já decifrei nas consequências é que deu ao novo governo discurso e motivos para agir com força, e assunto na imprensa para mais de metro. Que coisa, não? Tá todo mundo louco, como se diz.