Diaristas & patroas

Duas mulheres sob o mesmo teto, mas bem distantes nos gostos, sentimentos e objetivos. E na classe social

Na sala, a patroa recebe alegremente duas amigas, que louvam admiradas sua aparência: como estás bem, cada vez mais bonita! E a diarista trazendo a bandeja de chá ou cafezinho e alguns petiscos, fica pensando se a vissem de manhã, ao sair da cama, descabelada e sem maquiagem, o que diriam?

Quando as senhoras na sala baixam a voz e falam por sinais, é delas, das diaristas que estão falando. E nunca é de bem.

Duas mulheres sob o mesmo teto, mas bem distantes nos gostos, sentimentos e objetivos. E na classe social! Seu relacionamento depende muito das respectivas necessidades. A dona de casa quer mais tempo para outras atividades que não sejam só limpar, lavar, arrumar a casa, fazer comida repetidamente, criando calos e nunca chegando ao fim das tarefas. Porque elas recomeçam a cada dia, sem um resultado final. É de estressar!

Ao passo que a doméstica, vendo tudo o que falta em sua casa, ou para os seus filhos, e para si mesma, resolve trabalhar fora, de acordo com seu preparo. O que sabe fazer é aquilo que aborrece a patroa: lavar, passar, cozinhar…

Quando as duas partes se aceitam, respeitam e até se querem bem, o lar consegue chegar a ser doce, a paz e a mútua ajuda acontecendo entre elas.

Mas muitas varáveis podem surgir. Conheço patroas que nem chegam a aprender o nome completo de suas empregadas, nem se importam com seus problemas. Só o que sabem é mandar e reclamar. Naturalmente, essas dificilmente conseguirão uma substituta, pois seu nome está na lista negra. Elas têm o seu clubinho!

Outras, porém, valorizam o trabalho de sua doméstica, pois todo trabalho é digno e necessário, e ai de nós se ninguém quisesse desempenhar esse ofício. Assim como há doutores nas classes médicas, da Justiça, Ciência, Economia, Educação, há pós-graduados e Mestres nas Ciências do Lar.

Tive uma amiga que se casou aos dezesseis anos. Sempre em casa teve tudo à mão, sem fazer nada a não ser estudar. De presente, a mãe que já treinara a própria empregada por muito tempo, deu-a para a noivinha, que a conservou por anos e anos, e nunca precisou entrar na cozinha ou arrumar a casa. Assim, pode dedicar-se ao marido e aos filhos inteiramente. E entre as duas, patroa e serviçal, criaram-se os laços mais profundos de amizade. Ao aposentar-se, depois de treinar sua substituta, a doméstica recebeu uma casa mobiliada e equipada com todos os confortos da época. E também a satisfação de ver seus filhos formados e bem encaminhados na vida, graças aos subsídios oferecidos por seus gratos patrões.

Aproveito este espaço para homenagear a Lígia: quem mais que ela conhece melhor os meus defeitos a olho nu e sem maquiagem? E meus humores de cada dia? Mesmo assim, permanece fiel ao meu lado, nestes dezesseis anos de minha vida abençoada.