Uma criança, David, e uma mulher, Amanda, conversam. David é filho de Omar, um criador de cavalos de corrida, e de Carla, que trabalha em uma fazenda. Amanda está passando férias no povoado em que eles moram e faz amizade com Carla. No início, sequer sabe que a nova amiga tem um filho, só descobre porque um vizinho lhe pergunta se conhece o menino. Então, Carla lhe fala abertamente sobre a condição de David, e é essa conversa e o que ocorre a partir dela que Amanda relata, detalhadamente, a ele.

Omar tinha sob sua responsabilidade o melhor garanhão da região, e não tirava os olhos dele nem por um segundo. Quando precisava sair, esperava que Carla retornasse do trabalho para vigiá-lo. Nessa época, David ainda era bem pequeno.

Um dia, com Omar fora de casa, estava a cargo de Carla o cuidado do garanhão. Olhando por uma janela, ela não o viu em lugar algum. Então, com o filho nos braços, saiu para procurá-lo. Depois de um tempo, lembrou-se do riacho que ficava próximo, e de que o cavalo poderia estar lá, bebendo água.

Para alívio de Carla, isso se confirmou. Mas, para poder aproximar-se, teve de soltar o filho na grama. Foram várias as tentativas até conseguir pegar as rédeas e, quando ela se voltou para David novamente, o menino havia caminhado até o riacho, molhado as mãozinhas, e lambia os dedos úmidos. Próximo a ele, um pássaro morto boiava na água.

Isso foi um grande susto, mas tudo parecia ter dado certo: ela voltou para casa com o filho nos braços e o garanhão pelas rédeas, sem que o marido precisasse saber o que acontecera.

Até que, no dia seguinte, o cavalo foi encontrado à beira da morte. Carla sabia que, o que quer que ele tivesse, David também teria.

Assim começa a trama de Distância de resgate, romance de estreia da escritora argentina Samanta Schweblin. A obra não é dividida em capítulos, o que normalmente me incomoda, porque a leitura parece mais cansativa. Mas não nesse caso. A narrativa é tão envolvente que a vontade de parar sequer se aproxima. Amanda e David relembram tudo o que aconteceu em busca de uma informação, e o leitor é impulsionado pela necessidade de saber o que houve com o menino, que informação é essa, e o que pode mudar quando eles estiverem de posse dela.

 

Referência:

SCHWEBLIN, Samanta. Distância de resgate. Tradução de Ivone Benedetti. 3ed. Rio de Janeiro: Record, 2021. 144p.