Quando eu era adolescente, guri taludo, dito gurizote, metido a dançador nos Carreteiros da Saudade, cheguei a ir a cavalo a alguns bailes no Salão do José Medeiros, no Lagoão, e no Aldo Flores, na Vila Progresso, nas férias escolares de verão, quando “vestia” umas botas 43 do meu pai para acomodar o meu pé 41. E não era só eu que usava esse meio de transporte. Muita gente boa, que morava longe, utilizava a cavalgadura para se entreverar num bailezito campeiro. Eles pipocavam por todos os rincões do nosso vasto interior, na base do lampião a querosene ou do gerador a diesel para mal iluminar as salas, onde gaiteiros heroicos, sem ou com precárias amplificações, animavam aqueles furdunços, abaixo de muito trago e muito grito.
Na cidade, passei a frequentar os bailes do Clube União, onde era uma luta renhida para conseguir convite, já que tinha de ser apresentado por um sócio da entidade. Eu apelava para o Catarino Moraes Coutinho, que era meu padrinho, ou para o professor Joaquim Almeida para poder entrar naqueles salões, principalmente no Carnaval.
No Recreativo, era mais fácil, o pagamento da entrada já nos habilitava para as reuniões dançantes e os folguedos de Momo. De vez em quando, um bailezito mais aprumado. Mas era menos glamoroso na época.
Com o passar do tempo, os costumes sociais evoluíram, e já não existem mais restrições como as de antigamente. Quase todo mundo se diverte onde quiser, desde que adquira ingresso, que também não é lá muito salgado no seu custo, principalmente para a gurizada. E alguns, ultimamente, brigam de socos e safanões, na rua mesmo, para “animar” um pouco mais essas festas do povo, coisa que sempre houve, aliás. Só que antigamente matavam, e hoje só se arranham. Estamos evoluindo kkk.
As bandas e os conjuntos se multiplicaram, tanto os locais como os que vêm de fora, e todo mundo conhece todos eles através das redes sociais.
Hoje em dia, existem diversos locais para dançar, e muita gente que gosta de fazê-lo, chegando a virar vício para muitas pessoas. Estão sendo comuns e variados os bailes de sexta, sábado e domingo, de tarde e de noite, e grande parte dos bailarinos frequenta a todos, na busca de lazer e de entretenimento. Tem muita gente de idade mais avançada botando a mão no namoro nesses entreveros de final de semana.
Depois de uma seca de mais de dois anos, pela pandemia, parece que o povo que se encontrava em isolamento largou-se palas bailantas e galpões de CTGs, na busca de recuperar o tempo perdido. Tem muito sapato e bota velha saindo dos guardados para receber um lustro novo de reabilitação. E nunca os sapateiros, que já são escassos, botaram tanta “meia sola” como atualmente vem acontecendo. (Se tiver de comprar um sapato novo para cada baile, não sobra dinheiro para a entrada e a cerveja. Se for acompanhado, pior ainda, a despesa dobra.)
Outros eventos atopetados de gente e de bicho (cavalos e vacas) são os rodeios de laço, que hoje também já acontecem ajoujados com shows noturnos nas sedes campestres dos CTGs.
É isso aí, vamo botá que o pai não tá. E ainda falam na crise que assola o país. Ou será que é o Auxilio Brasil de 600 mangos que tá sustentando esse povo todo? Ou já voltou a ser Bolsa Família?