Reler La vida es sueño agora e descobrir coisas novas me fez querer reler também outras peças de teatro que havia lido na mesma época. Olhando esses livros na estante, percebi que tinha uma memória mais ou menos clara de cada um deles, exceto Pedro y el Capitán, de Mario Benedetti. Deste, apenas lembrava que seu contexto era a ditadura, mas, da trama em si, nada.

Relendo-o, na primeira página, já não sabia como havia sido capaz de esquecer aquilo. É apenas a descrição do cenário onde se passará a ação e do que a antecede, mas capaz de fazer o leitor se sentir naquela sala de interrogatório.

Pedro é um preso político, Capitán é seu torturador. Um o contraponto do outro: Pedro amarrado e encapuzado, vindo “de uma primeira sessão – leve – de tortura física” (p. 19 – tradução minha); Capitán bem-alinhado, de uniforme, “impecável, com ar autossuficiente” (p. 19 – tradução minha).

A ação se desenvolve em quatro partes, cada uma delas se passando após uma sessão de tortura física sofrida por Pedro. A primeira é um monólogo de Capitán, Pedro se mantem calado e não responde às “perguntas inocentes” que o torturador lhe faz. Nesse monólogo, ficamos sabendo que a forma de atuação de Capitán é diferente: tenta vencer o preso através de palavras, antecipando o que ele e, possivelmente, sua família virão a sofrer.

Na segunda parte, Pedro começa a falar com Capitán, e o feitiço começa a se virar contra o feiticeiro. Do alto de sua soberba, o torturador não imaginava que aquele preso pudesse ser tão forte e pagar-lhe na mesma moeda. No fim das contas, acho que Capitán preferia que Pedro tivesse permanecido calado…

 

Referência:

BENEDETTI, Mario. Pedro y el Capitán. 3ed. Madrid: Alianza Editorial, 2013. 96p.