Será? Porque, quando as pessoas vivem uma paixão arrebatadora como a de Cauby por Lavínia… Sei não, hein. Mas bem, comecei pelo fim. Voltemos ao início.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino, é narrado em primeira pessoa por Cauby (sim, como o cantor), um fotógrafo que está contando sua história de… amor? Desamor? Os dois? Difícil dizer… Mas seja o que for, foi com Lavínia. E Shirley. Que são a mesma pessoa. Duas em uma. Dois opostos perfeitos.
Eles se conheceram em uma loja de equipamentos fotográficos. Cauby viu um porta-retratos com a foto de Lavínia na vitrine e, ao comentar sobre sua beleza, ouviu um “obrigada” em resposta. Ela estava atrás dele. Galanteador, o fotógrafo pediu para ficar com a foto, e Lavínia permitiu, com a condição de que ele lhe desse uma das suas. Cauby, então, lhe passou o endereço de seu estúdio para que eles pudessem efetivar a troca. Quando ela saiu, o dono da loja até tentou avisar quem Lavínia era, mas Cauby, encantado, não quis ouvir.
Os primeiros encontros de Cauby e Lavínia foram tranquilos, como amigos. Até Shirley entrar em cena e eles começarem um relacionamento. Algo que o fotógrafo diz sobre esse dia resume bem a sequência da trama. Lavínia falava muito sobre astrologia, e eles sabiam “que, naquele dia, a Lua visitava a conjunção Marte e Urano, favorecendo as transformações. Algo iria ser posto em marcha. Algo grande, descontrolado.” (p. 38) E foi o que aconteceu.
Tudo isso, o fotógrafo relembra em pensamento enquanto está sentado na varanda da pensão em que mora, acompanhado de Altino, outro locatário, que está contando sua história de amor platônico para Cauby e um menino que está sentado nas escadas. Assim, podemos perceber que a narrativa transcorre em dois tempos, um cronológico, o presente, e outro psicológico, o passado, nas lembranças de Cauby.
Mas não apenas do relacionamento de Lavínia e Cauby é feito Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Como pano de fundo, há um conflito violento entre garimpeiros e uma mineradora. E há de se mencionar também a história de Lavínia, contada na segunda parte – o livro é dividido em quatro –, que é a de muitas meninas em nosso país, infelizmente. Esse trecho me lembrou algo que a dona Anna Zoé disse em sua coluna da semana passada (edição de 17 de junho), as “proximidades calamitosas” que unem todas as classes sociais.
Referência:
AQUINO, Marçal. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. 1ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 232p.