“Na semana do evento, havia o Baile da Bombacha, no Clube União, e todo mundo era obrigado a ir pilchado”
Há poucos dias passados, aconteceu o grande evento rural de Caçapava. Andei lá pelo Parque Elyseu Bemfica para ver os bichos expostos e pessoas conhecidas que não costumo encontrar com assiduidade, principalmente os de origem camponesa, que nem eu.
Ainda me lembro do Seu Bemfica trabalhando na Coopam, ali na Rua Quinze, naquele tempo em que a casa era a única especializada da cidade na venda de produtos veterinários, quando o meu pai comprava fenotiazina, creolina e carrapaticida. Não havia essa profusão de marcas e medicamentos diversificados e caros, que servem para todo tipo de males, pestes e doenças que acometem a bicharada. Nem sal proteinado existia. Ração de cachorro e de gato era lavagem ou alguma sobra da comida de casa, não existiam os pets. Esses animais domésticos despertavam estimas e referências porquanto se tornassem úteis para guarnecer a casa e caçar ratos.
Na década de 1960 “As Exposições” aconteciam no interior do Forte D. Pedro II, onde havia baias, bretes, mangueiras e galpões. Na semana do evento, havia o Baile da Bombacha, no Clube União, e todo mundo era obrigado a ir pilchado. Ainda não haviam sido criados os CTGs, e aquele baile era famoso e muito frequentado pela vistosa sociedade agropastoril caçapavana.
Certa vez, eu andava grudado nas bombachas do meu pai, vistoriando os animais da feira, e assisti a um grupo de mulheres, não lembro se moças ou senhoras, questionando a um gaudério que guarnecia uma baia com alguns carneiros de campo:
– Meu senhor, que coisa engraçada, tem uns que têm chifres, e outros que não têm… Por que será? – perguntou uma delas.
– Olha, minha senhora, esses de guampa são os casados, e aqueles outros mochos ainda são solteiros, mas um dia ainda chegam lá…
Muito tempo depois, já no atual local, o meu irmão resolveu comprar um pato para acasalar com umas patas que nadavam no açude que havia lá fora. Comprou o bicho perto do meio-dia e já tratou de levá-lo pra casa. Almoçou com a presa ao pé e passou a tarde inteira com o bicho debaixo do braço, passeando pelo recinto e explicando para os conhecidos as tantas qualidades do desconfiado e cheio de penas grasnador.
Na edição deste ano, vi uma grande quantidade de cavalos, touros e carneiros, nenhum caprino, poucas galinhas, e nenhum animal exótico, nem garnisé, nem pato, nem ganso, nem peru, etc. Acredito, também, que havia menos máquinas agrícolas do que em anos passados. Deve ser por causa das safras frustradas dos últimos tempos e pelas incertezas dos plantadores quanto ao socorro esperado do Governo Federal, que ainda não está universalizado. Tem muito plantador de soja já pensando em mudar de rumo, diversificando culturas para perder menos.