Foi muita chuva

São muitos os danos em nossos bairros e todo o extenso interior viário, e muitos trabalhos já realizados terão de ser refeitos ou complementados. Os trechos que já se encontravam deteriorados antes das chuvas pioraram

Ninguém duvida que fazia muito tempo que não chovia tanto em setembro como este agora de 2023, recém ultrapassado. Andamos lá pelos 1.000mm, que equivalem a um metro de água, se fosse medido em algum reservatório acumulativo, na vertical. Tudo culpa do fenômeno El Niño, que apareceu de novo, aquecendo águas do Oceano Pacífico, etc., etc. e muito mais explicações, estudos e palpites climáticos de tudo quanto é tipo de especialista.

Lembro que, em 1998, quando eu comandava o Batalhão de Engenharia de Lages/SC e tinha a missão de concluir e asfaltar 53 quilômetros da BR 285 – que liga Vacaria a Bom Jesus, ao Norte do nosso Estado, e que ainda está lá naquelas serras, bem bonitona, servindo aos produtores de maçã –, choveu algo semelhante ao volume que caiu por aqui neste mês último passado.

Foi inspecionar os nossos trabalhos, naquele meu primeiro ano de comando, um General de Brasília, do Departamento de Engenharia e Construções do Exército (Diretoria de Obras de Cooperação), que questionava por qual motivo a obra não andava e os cronogramas de execução se encontravam atrasados. Lembro que construímos um gráfico pluviométrico que, apresentado ao visitante, não foi suficiente para fazê-lo acreditar que estávamos rendendo pouco por causa das enxurradas. Demorou algum tempo, depois que as chuvas diminuíram, para o solo voltar a se estabilizar e para que pudéssemos restabelecer as rotinas da obra e a estrada chegar ao seu termo.

Falo disso por saudosismo e também para dizer que a nossa Administração Municipal, cujo novo secretário de Obras entrou trabalhando com afinco e boa vontade há poucos meses, não terá vida fácil daqui até o próximo inverno de 2024. São muitos os danos em nossos bairros e todo o extenso interior viário, e muitos trabalhos já realizados terão de ser refeitos ou complementados. Os trechos que já se encontravam deteriorados antes das chuvas pioraram, e os trabalhos aí serão maiores do que o normal.

O que menos interessa nesta hora é saber se Caçapava possui sete mil quilômetros ou três mil quilômetros de malha viária rodoviária, porque ponte caída, bueiro danificado e buraco/valeta aberta precisam de reparações urgentes, pois quem vive ou trabalha no interior e paga seus impostos precisa da ação rápida e decidida do Poder Público competente.

Juscelino, que construiu Brasília, já dizia que governar é construir estradas. E eu digo que governar também é escutar o povo e saber das suas agruras públicas, principalmente, as demandas coletivas.

Dizem também que a primavera que se está iniciando e o verão vindouro serão molhados ao extremo, e que os produtores rurais terão prejuízos ainda maiores do que com as secas dos anos anteriores.

Eu me criei ouvindo o meu falecido pai, que era um pequeno agricultor, repetir à exaustão que “Deus haveria de olhar para baixo e que a safra seguinte seria melhor do que a última”. Morreu e não viu sua esperança ser realizada, porque o agricultor trabalha sempre no fio da navalha, vendo orçamentos, financiamentos, dívidas e esperanças conviverem num balaio só, um se agarrando ou mordendo o outro, numa simbiose de sonhos e muito labor.

Pelos menos, estas águas abundantes alimentarão os mananciais para quando da escassez dos verões, e os lixos espalhados que conseguiram atravessar as bocas dos bueiros seguiram para bem longe dos descuidados que os esquecem pelas ruas todos os dias de sol.