Três sentinelas estão montando guarda quando surge um espectro idêntico a Hamlet, o falecido soberano da Dinamarca. Dois deles já o haviam visto outras noites; o terceiro está ali por não acreditar nos relatos e querer vê-lo com seus próprios olhos.
Apenas um mês após a morte de Hamlet, seu irmão Cláudio se tornou o novo rei, casando-se com Gertrudes, a rainha recém-viúva.
Na manhã seguinte ao episódio presenciado pelas sentinelas, Cláudio, Gertrudes e o príncipe Hamlet – ainda de luto pela morte do pai – conversam. Neste diálogo, fica claro que o jovem não está nem um pouco contente com o fato de o tio estar ocupando o trono. Ele ainda sofre, e Cláudio o estimula a deixar de lado a dor e esquecer o que passou. Por isso, Hamlet não quer mais estar na corte e, sob o pretexto de seguir estudando, quer permissão para partir. Mas sua mãe e o rei insistem para que fique perto deles.
Quando Gertrudes e Cláudio se retiram, deixando Hamlet sozinho, entram em cena os três soldados e contam a ele o que viram. O príncipe decide que, na próxima noite, os acompanhará na vigília. É nesta oportunidade que vê o espectro do pai, que o chama para uma conversa a sós, na qual lhe conta que fora assassinado por Cláudio e insta Hamlet a vingá-lo.
Assim começa a peça de teatro A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare. Esse é um daqueles textos que todo mundo conhece pelo menos alguma coisa, mesmo sem nunca ter lido, como a frase que uso no título desta coluna e a clássica “ser ou não ser: eis a questão”.
Mas há muito mais do que isso na obra, muitas outras discussões para nos fazer refletir, como quando há a suspeita de que uma pessoa tenha cometido suicídio e, ainda assim, recebe um enterro cristão – algo contra as leis da época. Dois personagens aproveitam essa situação para falar das vantagens que os ricos têm sobre os pobres: se essa pessoa não fosse um nobre, teria o mesmo direito?
Existem muitas edições das obras de Shakespeare em português. Eu sempre indico as da Penguin Classics, que me parecem ser as mais completas. Essas traduções são feitas pelo professor da UFSM, Lawrence Flores Pereira, que apresenta, em textos introdutórios, um bom contexto sobre as obras, que enriquecem a experiência de leitura.
No caso de Hamlet, ele explica que existem três versões impressas, do século XVII, que são consideradas mais relevantes. A segunda é a mais completa, mas a terceira possui 85 linhas que não estão presentes nesta. Na tradução do prof. Lawrence, utiliza-se a segunda versão, acrescida das linhas existentes apenas na terceira (p. 41-42).
Referência:
SHAKESPEARE, William. A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca. Tradução, introdução e notas: Lawrence Flores Pereira. 1ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2015. 320p.