Em fevereiro de 1969, ingressei como cadete na Academia Militar das Agulhas Negras, Resende-RJ, na condição de aluno oriundo do meio civil. A maioria era filho de militar e estava ali por influência familiar, para ser igual ou maior do que o pai na profissão.
Como eu não havia servido ao Exército, com 18 anos, não diferenciava um cabo de um general e nem conhecia de hierarquia, regulamentos militares e tampouco sabia das rotinas castrenses que a grande maioria, oriunda da Escola Preparatória e dos Colégios Militares, já estava habituada a enfrentar. Então fui aprender, de supetão e em franca desvantagem, se comparado aos demais. Foi uma briga medonha para coordenar o movimento em diagonal dos braços à frente do corpo nos deslocamentos em marcha cadenciada nas intermináveis horas de ordem unida, enquanto erguia o queixo, estufava o peito e recolhia a barriga. Tive de fazer muitas horas extras, à noite, sob a orientação de algum companheiro disposto a gastar seu tempo de lazer ou estudos tentando me arrocinar. (A ordem unida serve para criar uma postura corporal no militar e também para automatizar a obediência)
Foi nessas andanças que ouvi por primeira vez os conceitos de ESQUERDA e DIREITA: na batida do bumbo, rompia-se a marcha com o pé esquerdo, enquanto buscava coincidir o pé direito no chão junto com a nova batida do tambor, e assim sucessivamente, até que o jovem calcanhar sovasse o contraforte do sapato ou do coturno novo.
Agora, nas eleições recém-acontecidas, discutiu-se por demais os conceitos tradicionais e históricos de ESQUERDA e DIREITA, entre as tribos do Lula e do Bolsonaro. Gastou-se enorme tempo dos debates com acusações teóricas de parte a parte: tu és comunista, socialista, amigo do Maduro e de Cuba; e tu és fascista, nazista, negacionista, etc.
Claro que houve a Guerra Fria, na segunda metade do século passado, no pós-Guerra Mundial, quando União Soviética e Estados Unidos, os dois maiores vencedores daquele conflito, dividiram o mundo em duas áreas de influência. Mas hoje, em pleno 2022, depois de uma pandemia sacripanta, não acredito que um eleitor precisado de comida ou um desempregado de há muito decida seu voto à luz de ideologias antigas.
Não vejo espaço definitivo para novas lutas de ESQUERDA e DIREITA porquanto couber ao povo trocar ou manter governos de acordo com os seus interesses mais urgentes, DEMOCRACIA. Vota-se por simpatia ou antipatia, por informação ou fake news, por campanha bem executada e até por influência de amigos ou parentes. Escolhe-se apostando na ESPERANÇA de que a vida melhore e de que os nossos problemas estruturais sejam resolvidos. Cada um espera pela solução da sua agrura.
Ressalvo os governos autoritários, que retiram do povo o direito da alternância no poder. Aí sim, tanto faz se for de um ou outro lado: todas as ditaduras ou tiranias são opressoras e merecem ser derrubadas.