Na novela Dayan, do romeno Mircea Eliade, Dobridor e Dumitresco conversam sobre um colega, Constantin Orobete, a quem chamam de Dayan. Esse colega é muito inteligente, tem um futuro promissor, mas Dumitresco não gosta muito dele e não tem interesse na conversa até Dobridor lhe explicar que notara algo errado: a venda que Dayan sempre usou cobrindo o olho direito, agora, cobre o esquerdo.

No dia seguinte, Dayan é chamado à sala do reitor da faculdade que frequenta para esclarecer o caso, afinal, em sua ficha, consta um atestado médico que afirma que seu ferimento é no olho direito. Dayan, então, mostra seu olho esquerdo machucado e conta ao reitor o que lhe acontecera, mas ele se exalta com a explicação e diz que, se Dayan não aparecer na faculdade, a partir do dia seguinte, “exatamente como foi admitido” (p. 134), será acusado de ser obscurantista, supersticioso e místico.

Mas o que aconteceu a Orobete que assustou tanto ao reitor ao ponto de ameaçá-lo? O apelido Dayan é uma referência ao general Moshe Dayan, quem usava uma venda no olho esquerdo. Um dia, Orobete caminhava na rua quando um desconhecido o parou e disse que, para que ele ficasse realmente parecido com o general, a venda deveria tapar seu olho esquerdo. Sem que Orobete se desse conta do que acontecia, o desconhecido fez com que seu olho ferido passasse a ser o esquerdo.

Diante do ultimado do reitor, agora, Dayan terá de reencontrar esse desconhecido para que o deixe como antes. Mas o que esse reencontro acarretará em sua vida?

Como eu disse quando falei de outra novela de Eliade (Uma outra juventude), ele é um estudioso que trabalha com mitos, e isso influencia em seus textos ficcionais. Outra característica que se repete em obras suas é o mistério: no caso de Dayan, quem é o desconhecido que Orobete encontrou? A união desses elementos (mitos e mistérios) cria uma atmosfera muito rica para nos fazer pensar: em Dayan, Orobete simplesmente enlouqueceu com seus estudos ou há uma tentativa de esconder uma descoberta científica possivelmente revolucionária?

 

Referência:

ELIADE, Mircea. Uma outra juventude e Dayan. Tradução e notas de Fernando Klabin. São Paulo: Editora 34, 2016. 216p. (Coleção Leste)

P. S.: Com relação à referência, a edição utilizada como base para esta coluna reúne duas obras de Mircea Eliade, Uma outra juventude e Dayan. Elas são independentes.