Sempre achei o mês de maio especial. O próprio nome é de uma sonoridade que dá gosto pronunciá-lo. Lembra jardins bem tratados, onde a rosa impera em todos os seus matizes. Apesar de rainha, ela é a mais democrática de todas as flores. Nos banquetes, nos lares de todas as classes sociais, nos cemitérios, ela costuma dar o ar de sua graça, compartilhando os sentimentos de todos.

Vejo-me percorrendo ruas nos bairros mais humildes da cidadezinha dos meus primeiros anos de magistério. As casas de meus alunos, uma porta, duas janelas, um portãozinho de ripas de madeira ou taquaras e… Louvado seja! Um caramanchão curvado sob o peso de roseiras em flor.

Quase todos os dias, elas chegavam à minha sala de aula, trazidas por uma aluna gentil. Compensava os maus momentos que seus colegas rebeldes me causavam, antes da mútua adaptação, que me pareceu um milagre e me garantiu que estava certa na minha escolha de trabalho.

Soube, depois, que a costureira mais procurada do local, ao me ver passar, largava a agulha e o dedal e dizia: “Lá vai a professora sonhando.” Ela estava certa.

Recém-formada, com os ensinamentos – e exemplos – de meus professores ainda quentinhos na memória e no coração, eu sonhava que a educação das crianças de todas as classes, credos, raças e ideologias seria o caminho para a redenção de nosso Planeta e da Humanidade. Que não haveria mais guerras, mas o diálogo favoreceria a paz. Deixaria de haver crimes, onde houvesse arrependimentos e pedidos de desculpa.  E a palavra escrita ou falada daria o mesmo eco a todos os cantos do mundo: Paz, Amor, Felicidade.

As rosas não chegam à mesa do professor de agora. Em vez disso, reclamações, insultos e até agressões. De ambos os lados, pois até “tias” de creches torturam seus pequeninos.

Em lares ou arremedos de lar, a mãe não recebe rosas do pai de seu nenê recém-nascido, mas as violências e feminicídios crescem assustadoramente.

No cotidiano, os maus modos suplantam os gestos de cortesia na rua, no trânsito, nos estádios de futebol e outros esportes, nos palanques dos candidatos, pois são ocasiões que requerem policiamento especial. Acontece em todas as classes. Advogados, e até desembargadores, policiais, federais ou da Brigada, ninguém se isenta de crimes de intolerância e falsidade e até violência. Os bons exemplos não apagam totalmente seus estragos.

Ah, se Paulo Freire tivesse vencido a batalha do analfabetismo do Povo, que sem cultura é massa de manobra. Vai aonde o vento lhe sopra mais.

Poderia ter sido tão diferente. E, neste início de maio, gostaria só de  louvar o amor, a figura de uma mãe que dá mimo, protege e guia para o bem. De um pai que divida as responsabilidades da educação e valorize sua família. Que a família seja o núcleo de uma sociedade livre de ódio, mas cheia de vontade de ajudar a reverter esse quadro de erros e incertezas que estamos vivendo.

Que as rosas perfumem todos os lares neste mês de maio e além.