Foguito aceso na lareira grande
Um cheiro de galpão no frio da sala
Um sofá antigo forrado de pelego
E um cusco enrodilhado no meu pala
Um lusco-fusco do inverno se insinua
Restando uma fresta de luz pela janela
O verde espumado do mate esquenta a cuia
E um aroma de café vem nas mãos dela
Canta um garnisé empoleirado
Com entono de galo do terreiro
Clarinada pra noite que se achega
No recado do dono do poleiro
Vou repontando lembranças e tropilhas
No meu casulo ancião, introspectivo,
Mirando o crepitar das labaredas rubras
Acalanto do meu amor cativo
No infinito, se enrubescem mil luzeiros
Como a chama que ainda existe em meu penar
Cabresteio a novos sonhos, meu parceiro,
Porque ainda tenho essa mania de sonhar
Já faz tempo que escrevi esse poemita, mas acredito que tem um bocado a ver com os tempos de solidão caseira que atravessamos e, graças a Deus, nos permite continuar sonhando para o futuro que se aproxima a passos largos. Cada um de nós precisa planejar o seu amanhã assim como uma noite de inverno que se achega com recolhimento e desperta, na energia da geada grande, para um novo dia de sol, que tudo clareia e a todos esclarece. Bora lá dar corda no relógio do bom pensar. Nem que seja com a gente mesmo. Aliás, como diziam os mais velhos: “Eu, cá com meus botões…”