Por Tisa de Oliveira

Um dos principais pontos turísticos de Caçapava, Minas do Camaquã, que, em 1865, com a descoberta do cobre, recebeu holofotes e foi palco para personagens ilustres, terá sua história registrada em um documentário. “Minas do Camaquã: uma história para ensinar” tem como proposta realizar um resgate histórico-social da região, constituindo memória das diversas fases da localidade. A produção inicia no momento em que o minério foi encontrado, passa pelos ciclos estrangeiros, período de pesquisas, gestão de Francisco Pignatari, até o encerramento da extração mineral, em 1996. Apresenta fotos antigas, evidencia como eram espaços e como estão agora.

A ideia surgiu no curso de Comunicação Social/Produção Editorial, da Universidade Federal de Santa Maria, na disciplina de Projeto Experimental em Educação, com o professor Mauricio Fanfa. Os alunos deveriam elaborar um produto comunicacional de caráter educacional e, dentre as muitas possibilidades, a estudante caçapavana Ana Júlia Rodrigues e o colega Nadriel Essy Massaia optaram pela elaboração de um produto audiovisual.

“A escolha por Minas do Camaquã foi genuína e de coração, pois além de ser uma região de belezas naturais, carrega uma história que merece ser valorizada. Assim, entramos em contato com o Norberto de Ornelas, mestrando em Ciências Sociais (UFSM) que desenvolve uma pesquisa na área da Sociologia do Trabalho, com foco no paternalismo, e com o Lorenzo Pergher, discente da Escola Prof.ª Gladi Machado Garcia, morador das Minas do Camaquã e que se interessa muito pela história da localidade. Juntos, eles pesquisam sobre as Minas do Camaquã há mais de três anos”, revela a estudante.

O estudo é fundamentado em informações coletadas das mais diversas fontes, como o acervo digital da hemeroteca da Biblioteca Nacional, arquivos da Companhia Brasileira do Cobre (CBC), relatórios do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o acervo do Departamento Nacional de Produção Mineral, entrevistas com ex-trabalhadores e seus arquivos fotográficos, Consulado Geral do Brasil na Bélgica, arquivos da antiga Casa de Pedra, do Grupo Escolar, edições do jornal “O Minerador” (de veiculação local), e na revisão bibliográfica de trabalhos publicados nos principais repositórios de artigos, teses e dissertações que têm Minas do Camaquã como foco. Sabendo disso, os acadêmicos resolveram tornar pública a pesquisa, com um documentário que tem como público-alvo os moradores de Minas do Camaquã.

“As gravações duraram dois dias, mas há muito trabalho antes disso. Iniciamos a pré-produção com reuniões com os pesquisadores, para que pudéssemos estudar e compreender a história das Minas do Camaquã. Posteriormente, passamos para a seleção dos materiais, criação dos roteiros literário e técnico, planejamento do cronograma de gravações. Foi um trabalho incansável junto do Nadriel e do professor Mauricio Fanfa para que tudo corresse da melhor forma, tendo em vista que foi nossa primeira experiência com esse tipo de produção”, detalha Ana Júlia.

As gravações foram realizadas nos dias 10 e 11 de dezembro de 2022, em diversas locações. Iniciavam às 6 horas e encerravam à tarde, depois de 10 horas de trabalho. De acordo com a equipe, foram dois dias intensos para que conseguissem dar conta do programado. O calor excessivo foi uma adversidade, assim como o acesso para alguns locais, pela necessidade de adentrar em mato fechado para alcançar determinados ângulos.

“Após as gravações, o trabalho não acabou. Realizamos mais sete encontros para a edição, que foi um processo demorado, delicado e minucioso, no qual incluímos legendas, títulos e créditos. Após, realizamos um grupo focal, que consistiu na reunião de alguns representantes do público-alvo para assistirem, em primeira-mão, a produção e, assim, contribuírem com seus pareceres, sugestões e considerações. Foram selecionadas pessoas com diferentes níveis de contato com as Minas do Camaquã. Entre elas, quem vivia na época da mineração e ainda mora no local, pessoas que se mudaram para residir nas Minas posteriormente e jovens habitantes. O feedback do grupo foi positivo e gerou debates importantes sobre memórias, lembranças e histórias das Minas do Camaquã”, recordam os estudantes.

O documentário, que tem direção e produção de Ana Julia e Nadriel, e pesquisa e apresentação de Lorenzo Pergher e Norberto de Ornelas, será exibido hoje (04), em Minas do Camaquã, com sessões às 15h30min e às 19h, na escola Gladi Machado Garcia. No dia 13, às 17h, a Casa de Cultura Juarez Teixeira fará uma exibição, aberta para a comunidade.

Foto: Divulgação