Na confraternização de final de ano de um famoso escritório de advogados, casais se cumprimentavam cordialmente e apresentavam uns aos outros seus respectivos cônjuges. Que costumavam variar a cada ano. Sinal da modernidade.
A esposa do Diretor, com a sabedoria da idade – era a mais velha do grupo – tinha um alto poder de observação. E, dessa vez, chamou-lhe a atenção o contraste entre duas damas, na mesma mesa do jantar à francesa, por suas aparências. Uma delas, a nova mulher do advogado considerado o Don Juan da equipe, uma bela mulher, esplendidamente vestida e cheia de joias, atraindo os olhares masculinos de admiração – e talvez invejosos ou temerosos das mulheres. A outra, uma suave figura que passaria despercebida pela discrição na aparência e nas maneiras educadas de comportar-se. E a observadora ficou pensando: o quê o nosso brilhante advogado viu na moça para escolhê-la como esposa e, por tantos anos, parecer bem feliz? Quem vê cara não vê coração, deve ser isso, pensou.
Mas, à medida que a reunião – fora da mesa – passou para assuntos sobre artes, livros, filmes, música, filosofias de vida, ideias para bem viver e melhorar o mundo e outros interligados, deu para ver os apartes inteligentes da moça no desenrolar dos debates. Na sua modéstia, talvez nem tivesse notado que se tornou o centro das atenções e admiração dos presentes, e a senhora do chefe achou-a até mais bonita que a nova esposa de Don Juan, que se apagou.
Lembrando esse fato, pensei em máscara, Carnaval, fantasia, pois estamos em diversas crises de saúde, existenciais, políticas, ambientais e de guerra, tudo ao mesmo tempo. E nunca foi tão necessário garimpar as notícias com tanta eficiência, pois não dá para acreditar em tudo que é divulgado. A começar pelas intenções dos líderes, que podem não ser as de salvar a humanidade, mas seu intuito é bem o inverso, não é o que parece.
A começar por testemunhas: será que todas vêem os fatos da mesma maneira? Vítimas inocentes foram presas por alguém que as confundiu com o facínora. E, inversamente, criminosos cruéis, estelionatários que roubam o povo nas verbas para os benefícios sociais, superfaturamento de materiais de segunda nas obras de prédios populares – nas tragédias como a de Petrópolis – estes quase nunca são punidos. Faltam testemunhas corajosas e provas suficientes, segundo os altos escalões, quando até os mais ignorantes estão cansados de assistir.
Mas é carnaval, tempo de alegria e alegorias. O povo se fantasia de rico e se diverte; ou sai cantando “Lata d´água na cabeça” e “Onde é que eu vou morar” para desabafar rindo e não chorar as suas desesperanças. Não falta ao povo brasileiro o bom humor, que de tudo faz comédia, e da tristeza compõe sambas e marchinhas, e das lembranças faz telas ou grafites nas paredes ou em obras que resistem, escreve poesias e romances, todos contarão a História que não está nos livros, mas que ficará de herança para a posteridade.
Agora chegou a Quaresma, mais uma na Pandemia. Deus nos purifique e atenda nossos rogos. Amém.