Um dia desses passados, de friagem, no inverno, fiquei especulando no YouTube e encontrei um vídeo do Mano Lima, dizendo, na abertura de um de seus shows, que, naquele dia, não se encontrava nos seus melhores dias, “porque o homem não é uma máquina” que está sempre bem azeitada e pronta para funcionar, segundo os moldes que todos esperam dela.

Pois aqueles que escrevem por esporte ou passatempo, e até mesmo os profissionais do jornalismo, também têm dias secos de ideias interessantes para rabiscar no papel. Conheço diversas postagens sobre isso e já li, inclusive, boas estórias sobre a falta de criatividade dos influencers da atualidade. Não é nada fácil tirar leite de pedra, como se diz, assim de uma hora para outra, sem mais nem menos.

É que nem o mentiroso profissional, aquele que sente prazer em achar que engambela os seus ouvintes, inventando “causos” para alcançar ser o centro das atenções. Tem dias que os assuntos desaparecem e precisa apelar para a criatividade inventiva. Assim, que nem os políticos que, em tempos de campanha, inventam projetos e até encarregam alguns cupinchas de confiança para saber o que é que o povo quer escutar. E aí, prometem de cano cheio. E depois não cumprem, como sempre vem acontecendo… (Falando nisso, cadê a guarda municipal de Caçapava?)

Lembro muito bem de quando estava no serviço ativo do Exército e precisava enfrentar certas jornadas, executando tarefas (que os milicos chamam de missões) que não eram do meu agrado ou que eu não estava nos meus melhores dias para cumprir. Naquelas ocasiões, pensava na aposentadoria distante que um dia viria para trazer a liberdade de pouco fazer ou até nem fazer nada: tempo de sombra e água fresca, sem compromissos.

O problema é que, quando chega aquele tempo tão sonhado, o vivente se dá conta de que, com o fim das obrigações profissionais, se foram também verdes anos de convívios saudáveis, de troca de ideias, de convivências fraternas e de amizades construtivas. Ficamos decepcionados com o ócio e a falta de sentido para o resto da vida. Como que perdemos a motivação para novos desafios, e as ânsias sufocantes da existência passam a ser de outro tipo, diante da irreversibilidade dos acontecimentos.

Nem todos estamos preparados para uma vidinha de aposentado, sem planos, sem sonhos novos e sem ambições. É preciso que cada “inútil” desses, já na terceira idade, arrume alguma coisa pra fazer, nem que seja fofocar e escrever artigos para a Gazeta, contar histórias para os netos ou um passatempo episódico que preencha o tempo, que ocupe seus dias de maneira suave, sem sofrimentos existenciais. Eu, por exemplo, canto quando me sobra um tempinho nessa vida atribulada de aposentado:

 

Por isso, quando escurece no arvoredo do capão,

Não sei por que fico triste, por que chora o coração…

Só sei que cá no meu peito, cresce uma coisa esquisita,

Que eu penso seja saudade daquela vida bendita… Ou maldita?

 

Aí depende do dia, porque nem todo dia é um bom dia.