Viramos a chave do mês de outubro. Passado o Dia das Crianças, nos dedicamos ao terror. E nada melhor do que começar com uma obra publicada por uma editora que é especialista no assunto, a Darkside Books. Decidi fazer a transição de temas de uma forma mais leve e escolhi Coração satânico, de William Hjortsberg.

Tudo começa numa sexta-feira 13. Quando vi isso na primeira linha, logo pensei “hmm meio clichê…”, e me preparei para mais. Mas fui surpreendida. Na verdade, não tem muitos clichês, notei apenas mais um: o detetive particular Harry Angel recebe a ligação de um procurador que deseja marcar um almoço entre o detetive e um de seus clientes, Louis Cyphre, em um restaurante chamado Top of the six (algo como “topo dos seis”, em tradução livre ao português), que fica na Quinta Avenida, 666.

Esse cliente é um homem um tanto quanto misterioso. Quando Harry pergunta ao procurador se Cyphre é estrangeiro, ele responde que o cliente usa passaporte francês, mas não sabe sua nacionalidade. E quando o detetive repete a pergunta ao próprio Cyphre, a resposta é mais evasiva: “Digamos que sou um viajante”.

O que esse cliente quer que Harry faça é descobrir se o músico Johnny Favorite ainda está vivo. Parece um trabalho simples, mas Favorite foi ferido na Guerra durante um ataque da Luftwaffe e voltou aos Estados Unidos em estado vegetativo. Cyphre havia sido seu protetor no início da carreira e ainda tem um contrato em vigor com ele. Porém, alguns amigos de Johnny o retiraram do hospital de veteranos e o transferiram para um privado. Quando Cyphre tentou visitá-lo, a equipe do hospital tentou enrolá-lo, primeiro dizendo que Favorite estava passando por um tratamento especial e não poderia receber visitas por um tempo; depois, que apenas a família poderia vê-lo.

O que terá acontecido com Johnny Favorite? Em Coração satânico, nem tudo é o que parece…

Gosto de obras com suspense, porém, normalmente, elas levam um tempo pra me prender, porque demoram um pouco a chegar à parte que faz o leitor ficar pensando “o que foi que aconteceu?”. Mas essa não. Essa vai direto ao assunto. Com 12 páginas, já tinha toda a minha atenção.

A narrativa é em primeira pessoa, na voz de Harry, e flui muito bem, sempre deixando o leitor surpreendido. Mas não espere sentir muito medo, a estória busca mexer com nossos sentidos de outras maneiras. Por exemplo, a descrição das cenas. Algumas são de revirar o estômago; outras te fazem imaginar o que está por vir e te deixam arrepiado páginas antes de algo realmente acontecer; e todas elas são muito bem descritas e nos fazem imaginar filmes antigos.

 

Referência:

HJORTSBERG, William. Coração satânico. Tradução: Carla Madeira. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2017. 320p.