Além de seus escritos para a mitologia que desejava construir para a Inglaterra, J. R. R. Tolkien também criava estórias de fadas baseadas nas que contava para seus filhos. Uma delas é Roverando¹ (em inglês, Roverandom, mistura de rover – algo como andarilho – e random – sem rumo), que, segundo alguns de seus biógrafos, foi escrita para consolar Michael quando perdera seu brinquedo favorito – um cachorrinho – na areia da praia, durante uma viagem em família.
Em Roverando, o cachorrinho Rover está brincando com sua bola quando o mago Artaxerxes aparece. Com a intenção de jogar com Rover, ele pega a bola e ouve o cachorrinho dizer para largá-la. O mago, então, a coloca no bolso e dá as costas ao filhote, que o morde. Reagindo ao ataque, Artaxerxes transforma Rover em um brinquedo bem pequeno. Mas não um brinquedo qualquer: ele consegue se mover, livremente, sempre após a meia-noite e, antes disso, bem pouco, se ninguém estiver olhando.
Rover é levado a uma loja, onde é posto à venda. Felizmente, ele não tem de ficar muito tempo na vitrine, sob o sol. Logo uma mãe o compra para um de seus filhos, que ama cachorrinhos pretos e brancos, como Rover. Mas o agora cachorrinho de brinquedo havia decidido que fugiria de quem quer que o comprasse, e a ocasião perfeita veio no dia seguinte. A família vivia perto de uma praia e, pela manhã, as crianças resolveram ir até lá. O dono de Rover levou-o no bolso. Movendo-se como podia, o cachorrinho conseguiu colocar a cabeça para fora e, ouvindo uma ave que passou bem perto, acabou se assustando e caindo na areia, sem que ninguém percebesse.
Naquela praia, vivia outro mago, Psamatos. Não se sabe ao certo se ele lançou outro feitiço sobre Rover ou se, por estar próximo dele, o primeiro perdeu força. Fato é que, quando se deu conta, Rover era um cachorro de verdade novamente, mas ainda bem pequeno.
A partir desse ponto, enquanto conta sobre a busca de Rover por readquirir seu tamanho normal, Tolkien dá asas à imaginação e cria várias aventuras que o filhote viverá ao lado de novos amigos, em lugares que vão desde a Lua até o fundo do mar, mostrando que, mesmo que alguma coisa se perca, não devemos nos sentir mal por isso, pois, onde quer que ela esteja, viverá experiências incríveis.
Referência:
TOLKIEN, J. R. R. Roverando. Tradução de Rosana Rios. 1ed. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2021. 160p.
¹ Também publicado no Brasil sob o título de Roverandom pela editora WMF Martins Fontes