O livro de hoje é uma sugestão da leitora Helena Dutra, que foi minha professora de ciências e química na escola. Ela indicou Tuareg, do escritor espanhol Alberto Vázquez-Figueroa.

Os tuaregues (grafia do termo em português. No livro, é utilizado tuareg, como no espanhol) são povos que habitam o deserto do Saara, e é nesse ambiente que se passa a trama, em torno de 20 anos após a guerra que culminou na retirada dos franceses do território que haviam colonizado.

No começo, Tuareg é narrado em primeira pessoa, por alguém que é avisado que seu irmão está doente, e viaja para vê-lo. Na segunda noite da jornada, no alto de uma duna, ele ouve uma série de gritos, que descreve como inumanos e o deixam em pânico, pois vêm de diferentes pontos ao seu redor, e todos seguidos por lamentos.

Já na casa do irmão, ao relatar o que passara, lhe contam algo que teria ocorrido há muitos anos naquela região, e que entendo já ter se tornado um mito daquele povo, pois justificava, para eles, os sons que o narrador ouvira enquanto estava na duna. É por essa relação com a mitologia que cito este trecho. Voltarei ao tema ao final do texto.

Esse povo, dividido em tribos de maior e de menor importância (estas escravizadas por aquelas), vive isolado no deserto e é liderado por Gacel Sayad, uma pessoa muito respeitada por todos. A partir do momento em que toca no nome do líder, o narrador abandona sua história para contar a dele.

Um dia, chegam ao lugar onde vive esse povo dois homens com a saúde muito debilitada, pois estão há bastante tempo vagando pelo deserto. Eles são acolhidos como hóspedes e bem tratados, conforme mandam as tradições dos tuaregues. Através deles, Gacel descobre que muita coisa mudou – e já faz tempo: após uma guerra por independência, os povos do deserto agora são livres, e o território, dividido em muitos países.

A novidade deixa o líder inquieto, pois pressente que essa história e esses hóspedes podem acabar com a paz que tanto custou para ser alcançada. E ele está certo. A chegada de um exército que sequer sabia que existia, desrespeitando a única lei que conhece, o levará a uma jornada em busca de reparação ao agravo que sofre e de questionamento sobre a liberdade que dizem haver sido conquistada.

O povo de Gacel é um povo primitivo, que baseia seu conhecimento em crenças, tradições e mitos, que justificam o que é desconhecido para eles – como o caso que contam ao narrador para explicar o que havia vivenciado na duna. Ao se deparar com algo novo – a independência do território –, é lógico que tema pelo futuro de sua gente, pois o presente contraria seus saberes.

Um paralelo que tracei, desde o início, entre Tuareg e a nossa realidade é o advento da tecnologia. Hoje, tudo é digital, muito diferente de como era poucos anos antes. E a gente que lute para acompanhar, tenha ou não tenha condições, assim como os tuaregues com as mudanças políticas na região em que viviam.

 

Referência:

VÁZQUEZ-FIGUEROA, Alberto. Tuareg. Tradução de Remy Gorga Filho. 14ed. Porto Alegre: L&PM, 2019. 256p.