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Para ver esse lugar, explica Alice, basta aproximar-se do espelho daquela sala. Quanto mais perto se chega, mais se pode ver a Casa
Em Alice através do espelho, de Lewis Carroll, Alice está em uma sala, brincando com seus gatos, e começa a contar a eles sobre a Casa de Espelhos, um lugar que é o inverso daquele em que estão até nos mínimos detalhes, como os livros, que são bem parecidos com os que têm ao redor, mas com as palavras ao contrário e numa língua que não é exatamente a do seu mundo.
Para ver esse lugar, explica Alice, basta aproximar-se do espelho daquela sala. Quanto mais perto se chega, mais se pode ver a Casa. Mas quando a menina se aproxima do espelho, percebe que está embaçado. Logo, ele se derrete, permitindo ser atravessado e chegar ao cômodo antes apenas visto em seu reflexo.
O mundo em que Alice é introduzida é tão diferente do seu quanto aquele acessado através da toca do coelho. Na Casa, os primeiros objetos que encontra são peças vivas de xadrez, mas com os quais não consegue interagir. Então, decide explorar melhor o lugar e sai para o jardim, onde se depara com a Rainha Vermelha.
As duas caminham juntas por um tempo, até que Alice percebe que aquele mundo não passa de um grande tabuleiro de xadrez, em que todos os habitantes atuam como peças do jogo. Encantada, expressa seu desejo de jogar e se tornar rainha. Sua companheira responde que isso não será problema, pois a menina pode ser um dos peões da Rainha Branca, disputar a partida e, se conseguir chegar à oitava casa, alcançar seu objetivo. A partir de então, Alice viverá muitas aventuras, mas conseguirá se tornar rainha e – talvez o mais importante – voltar para casa?
A edição que li é a da Darkside, que inclui um capítulo suprimido da publicação original, por influência de seu ilustrador, John Tenniel, que, em carta para Carroll, disse não se sentir inspirado para ilustrá-lo. Pelo que é explicado no livro, o autor tinha a intenção de diminuir a estória, e Tenniel o sabia quando apresentou a sugestão.
Como tudo no mundo da Casa de Espelhos é ao contrário, o que acontece na trama joga com nossos sentidos. Naquele lugar, o sem sentido é que faz sentido. Devemos lembrar que a estória que se tornou seu livro anterior, Alice no país das maravilhas, fora contada para a verdadeira Alice quando ela tinha 11 anos. Em artigo publicado na edição da Darkside, Rafael Montoito diz que, quando do lançamento de Alice através do espelho, ela devia ter em torno de 19 anos. Logo, essa estória é voltada a uma pessoa mais velha, o que dá liberdade a Carroll para apresentar passagens de mais difícil compreensão.
Referência: CARROLL, Lewis. Alice através do espelho. Tradução: Marcia Heloisa. Ilustrações: John Tenniel. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2021. 192p.