O tempo

O tempo é aproveitar os momentos que o tempo nos dá, saber não viver somente de coisas passadas e nem apenas de coisas futuras, mas viver cada vez mais dos presentes, que não mais do que de repente se transformam em passados que gostaríamos de reviver

Em parceria com Maria Eduarda de Castro

Bem, na verdade, o tempo pra mim é algo inexplicável. Você está no presente, vivendo sua vida com as pessoas que ama e, quando o tempo passa, todos se foram. Pra mim é difícil explicar o tempo, porque é algo fora da realidade, algo mais para o lado do abstrato. Seria apenas um relógio dando voltas no ponteiro, através de suas antigas engrenagens de metal, inventadas pelos suíços ou, mais recentemente, por ordem de um circuito binário, dito eletrônico, que comanda a vida das pessoas? Acaso seria um calendário de agenda ou daqueles de cima da mesa do escritório, que a cada 24 horas se elimina um dia? Não sei e também não adivinho se alguém sabe.

Momentos. Pra mim, o tempo é aproveitar os momentos que o tempo nos dá, saber não viver somente de coisas passadas e nem apenas de coisas futuras, mas viver cada vez mais dos presentes, que também não conseguimos materializar e, não mais do que de repente, se transformam em passados que gostaríamos de reviver e que viram saudade no futuro.

Nesses últimos tempos, tudo parece passar tão rápido, me acordo de manhã e, quando vejo, já estou indo dormir de novo. As rotinas nos escravizam e nos fazem esquecer que cada dia vivido é um a menos que temos para viver. E por vezes não nos damos conta de que as oportunidades de viver intensamente passam despercebidas e acabamos perdendo o trem que nos conduz à magia da felicidade.

Ou será que o sentimento de estar feliz também é perene e depende do nosso estado de espírito? Será que ser feliz é a colheita de uma safra só?  Existiriam pessoas sempre felizes fora de seu tempo e alheias às voltas que o mundo dá? Encasulados em seu mundo todo próprio, onde os contratempos não passeiam, nem de galochas?

Pensando bem, o tempo, a felicidade e a tristeza coabitam o mesmo compartimento do abstrato e povoam as nossas imaginações, ancoradas com os planos de vida que traçamos e que nem sempre conseguimos ter.

Ah, meus amigos, no meu tempo, as coisas eram diferentes. Havia mais humildade nas convivências familiares, havia mais simplicidade no mundo, e a autenticidade dos simplórios inundava as rodas de mate e de prosas. Naquele tempo, o dinheiro não tinha a importância que tem hoje. Havia alegria no viver das pessoas simples, mesmo sem uma moeda no bolso. Pouca gente dependia das posses para ser feliz. O trabalho coletivo das famílias grandes e unidas bastava para viverem bem e em harmonia.

Hoje, dependemos de dinheiro para comprar um carro melhor do que o do vizinho, um celular de última geração por ano, precisamos calçar tênis de marca, roupas de grife, construímos nossas casas cada vez maiores e vistosas para demonstrar riqueza exterior, precisamos de money para viajar para o Nordeste ou para Aruba nas férias, porque vivemos em um mundo de ostentações, onde as aparências que enganam valem mais do que o conteúdo intrínseco de cada um.

Consta que a história e a origem do calendário, quando o homem começou a marcar a passagem do tempo, teve início com a necessidade  de organizar o tempo de cada povo, de registrar a sua evolução e de certas comemorações de datas festivas. Dizem também que se originou com os sumérios, que era um povo da Mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, que hoje corresponde aos território de Irã, Iraque e Jordânia), em 2700 a.C.

Eu fico analisando quando as pessoas apressadas e em frenética correria justificam algumas falhas ou esquecimentos, dizendo que andam sem tempo. O tempo da nossa vida é a gente que faz, priorizando sempre aquilo que for mais urgente e importante para resolver primeiro. Tem muita gente que perde seu precioso tempo gastando pólvora em ximango, à toa e não destinando o tempo necessário para as coisas mais importantes. Porque cada coisa em nossa vida tem seu tempo, sim senhor.

Conforme já disse em versos o grande Aparício Silva Rilo: “Naqueles tempos, sim, naqueles tempos… / Os homens usavam barbas e picavam fumo / E as mulheres faziam filhos, bordados e rosquinhas. / Os homens iam ao clube, as mulheres à missa / E os homens e as mulheres aos velórios. / Morriam discretamente e ficavam nos retratos…”