Havia um aluno da antiga Escolinha do Professor Raimundo que, ao responder as perguntas do mestre Chico Anisio, o fazia jocosamente se fazendo de “empunhado”: “deixa dilllso Raimundo, para com illlso…”.

Pois, “procurando sarna pra me coçá” em tempos de restrições pandêmicas, fico prestando mais atenção em certos episódios domésticos que nos passavam despercebidos nos antigos dias de normalidade. Minha filha de 14 anos, quando fui buscá-la na saída da academia de ginástica, comentou que havia tentado me ligar, mas que não o fizera por não saber mexer no telefone de lá que era daqueles antigos, de teclado. O quê? Vive fazendo vídeos e TikTok no celular… Aí sim, né?!

Hay criaturas que não sabem descascar laranja de arredondado, retirando a casca como uma solitária (tênia solium, tênia echinococcus ou saginata – ainda me lembro disso, caiu numa prova de biologia lá no tempo do Ginásio). Tem gente que não sabe descascar mandioca, que, aliás, já estão vindo descascadas, lavadas e empacotadas nos frízeres dos mercados. Tem muita criança de cidade, dessas que vivem grudadas nos celulares de display touch screen (tela sensível ao toque), que não sabe que o leite sai do úbere da vaca e que o ovos provêm das entranhas das galinhas. São muito poucos os que sabem riscar um fósforo para acender uma vela. Tudo quanto é fogão já vem com acendedor automático, e compram-se esses equipamentos descartáveis em qualquer loja de quinquilharias que existem em tudo quanto é cidade.

Perdemos a prática da vida, estamos em franco processo desorganizacional da simplicidade das convivências, quando constituímos amigos virtuais que nunca nos deram um abraço, afastados do calor dos colos protetores de tios e avós e das reuniões dos vizinhos nos finais de tarde de verão.

Outro dia, fui adicionado a um grupo de WhatsApp, de gente um tantinho mais gasta pela usura, que gosta de recordar das coisas boas da nossa infância: todos recordam de um mogango com leite depois do almoço, de uma marmelada feita num fogo de chão, na sombra das laranjeiras, quando o maior encargo era manejar a pá de madeira no fundo do tacho até que chegasse no ponto; a gurizada disparava e só aparecia na hora de comer a rapa e lamber a tal pá lambuzada do doce que iria ser guardado em uma caixinha de madeira para ser consumido no inverno.

Na minha casa, plantei uma figueira que produz muito figo todos os anos, mas a minha filha nem dá bola quando eu faço figada. Sou eu mesmo que, por causa de uma lembrança boa, raspo o tacho depois que enlato a produção. Aliás, ela nem gosta e não come a tal figada. Não consigo acreditar que alguém não goste de figada e não coma laranja porque não sabe descascar. Para com ilso! gente esquisita esta de hoje…