Pichurum

Certa feita, quando eu era gurizote, de férias lá fora, consultei meu pai sobre a possibilidade de me arrumar alguns trocados para comprar uma pilcha nova

Expressão de origem sulista, hoje em desuso, para definir um mutirão. Quando as pessoas se reuniam, para ajudar um vizinho a realizar um serviço de lavoura (plantação ou colheita), para levantar uma cerca, fazer uma campereada ou até mesmo para construir uma casa ou galpão, assim, num “upa” (rapidamente, numa jornada só).

Hoje em dia, estes costumes perderam importância e estão fora de uso, já que, na maioria das vezes, vivemos no “salve-se quem puder” ou “cada um por si” e o resto que se dane.

Certa feita, quando eu era gurizote, de férias lá fora, consultei meu pai sobre a possibilidade de me arrumar alguns trocados para comprar uma pilcha nova, para dançar nos Carreteiros da Saudade quando retornasse pra cidade. Ele me disse que não dispunha de dinheiro sobrando para esses fins, mas que, se eu quisesse, ele me forneceria o milho da semente para eu plantar uma lavourinha, que havia nos fundos do potreiro, de uns dois hectares. Caso colhesse bem, vendendo o milho ensacado, poderia comprar o que bem quisesse.

No outro dia bem cedo, para bem aproveitar a umidade da terra, canguei uma junta de bois no arado e toquei até as duas da tarde. Ficou faltando só uma nesguinha para o outro dia.

Para fazer o plantio, depois que discasse a terra, teria de manejar uma máquina daquelas de plantar grãos, manualmente, passo a passo, na terra entorroada e de pés descalços. Resolvi, então, organizar um pichurum com os de casa e mais alguns vizinhos que, voluntariamente, aceitaram a minha convocação.

Orientei a minha mãe, que era a cozinheira lá de casa, para que matasse duas galinhas nanicas da minha criação, para que a boia não faltasse para o almoço daquele povo trabalhador. Antes do sumiço do sol, a empreitada foi concluída e era só esperar São Pedro mandar chuva, para que o milho plantado nascesse parelho, sem falhas de germinação. A primeira capina seria problema que o futuro se encarregaria de resolver.

Naquela Semana Farroupilha desfilei de bombacha nova, pilotando uma carreta do Seu Vasco Pessoa pela XV de Novembro, e dancei bem faceiro num baile da antiga barraca do Lanifício Varan, onde funcionou posteriormente o Mercado Nacional.