Pinóquio quase assustador

Com essa e outras passagens, entendo as modificações feitas, porque se eu fiquei assustada com algumas coisas que acontecem, imagine uma criança… E pensar que, originalmente, a estória foi publicada em um suplemento infantil!

Um toco de madeira aparece na oficina de Mestre Cereja, o marceneiro, que decide usá-lo para fazer a perna de uma mesa. Mas quando ele vai começar o serviço, ouve uma voz fininha suplicar que não lhe bata tão forte. Imagine o susto que tomou ao descobrir que a voz vinha do toco!

Neste momento, Geppetto chega à oficina para contar a Mestre Cereja a ideia que tivera: construir um boneco de madeira, capaz de dançar, lutar e saltar, e com ele viajar o mundo, transformando-o em seu ganha-pão. Mas, para isso, precisa que o marceneiro lhe doe a madeira, o que prontamente é atendido, e Geppetto leva o toco falante para casa.

Mesmo antes de se tornar um boneco, o toco já era um verdadeiro traquinas. Quando Geppetto contou seu plano, o pedaço de madeira resolveu mostrar seu entusiasmo com a ideia, mas o fez chamando o visitante de Polentinha, um apelido que ele odiava. E quando Mestre Cereja foi entregá-lo ao amigo, o toco se sacudiu, conseguindo desvencilhar-se das mãos do dono da oficina e acertando as canelas de Geppetto na queda. A culpa pelos dois atos, que causaram grande confusão, recaiu sobre o marceneiro.

Ao chegar em casa, Geppetto se põe a trabalhar e decide chamar seu boneco de Pinóquio, pois acredita que esse nome lhe trará sorte. Mas quem precisará de sorte, na verdade, será ele mesmo. A cada parte do corpo que faz, mais animado o boneco se torna. Agora imagine você: se como um simples toco de madeira (falante, é verdade) ele já causa bastante confusão, o que não fará quando puder se mover e ganhar vida própria?

Algo que me chama muito a atenção quando leio esses clássicos da literatura que foram adaptados pela Disney é como as narrativas são modificadas. Nesse caso, por exemplo, há o grilo falante que se torna a consciência de Pinóquio no filme. No livro, (ALERTA DE SPOILER) ele até tenta colocar um pouco de juízo na cabeça do boneco, mas o resultado é um fim, pode-se dizer, trágico.

Com essa e outras passagens, entendo as modificações feitas, porque se eu fiquei assustada com algumas coisas que acontecem, imagine uma criança… E pensar que, originalmente, a estória foi publicada em um suplemento infantil!

Referência: COLLODI, Carlo. As aventuras de Pinóquio: História de um boneco. Tradução de Sérgio Molina. 1ed. Rio de Janeiro: Clássicos Zahar, 2022. 256p.