Depois do longo período de reclusão pela pandemia, sair às ruas é um privilégio, mas também ocasião de muitas surpresas. Várias mudanças nas casas, nas pessoas, no trânsito e em estabelecimentos comerciais. Onde ficou a loja de brinquedos mais concorrida? As lanchonetes mudaram de lugar? Desapareceram algumas, porém muitas outras surgiram, apresentando grandes novidades. Bistrôs, casas de bebidas, de lanches especiais, de tele-entrega e outras que ocupam determinadas quadras do Centro, seguindo o padrão de cidades grandes. Nossa Caçapava está-se modernizando…

Observo com tristeza que a árvore – corticeira ou sei lá o nome – do Clube Recreativo, aquela que exalava os primeiros perfumes do verão, não se encontra mais lá. Em seu lugar, ou próximo, surgiu outra, sem flor e sem aroma, que avança em direção à calçada. Também será sacrificada para dar lugar ao Museu do Geoparque tão aguardado.

Sinto falta de pessoas que sempre encontrava nas ruas. Como aquela senhora que enfrentava frio, calor, chuva e ventanias, recusava agasalhos, dizendo que já possuía o suficiente, mas esperava à porta de restaurantes pelo prato de comida que nunca lhe faltou. A última vez que a vi foi naquele inverno rigoroso em que a Prefeitura abriu albergues para resguardar os sem-teto. Dessa vez, ela aceitou abrigar-se, obedecer aos horários de recolher-se, dormir e alimentar-se dentro das regras estabelecidas. E depois da onda de frio, ela ainda entrava na fila para receber a quentinha. Estava de roupa nova, bem limpa e parecia bem animada. Depois disso, nada mais soube de seu paradeiro. Sumiu.

Outros moradores do Recreativo, velhos e trôpegos – que eu encontrava quando subia a Borges –, também não vejo mais. Devem ter partido para a eterna morada. Que Deus os tenha na sua glória. Não os conhecendo pelo nome, é impossível identificá-los pelos anúncios das Funerárias.

Lembro também aquela visão airosa – nunca esse palavra me pareceu tão apropriada – de uma mulher de vaporoso vestido desfilando pelas praças da Matriz, naquela tarde de domingo. Seu andar de modelo na passarela, cabeça erguida, olhando para o alto, deram novo colorido à paisagem, e eu não a esqueci. Onde estará ela agora? Soube que ela veio de longe, colhida à beira da estrada como um animalzinho perdido. Prostituição e drogas acabaram deixando-a na rua, porém festivamente recebida pelos moradores da Praça. E depois, sumiu. Alguém virá procurá-la?

Para alegrar-me, encontro pessoas conhecidas, felizes nas ruas, lojas e supermercados. Não temos pressa, os assuntos são muitos, e o momento é precioso.

Novas lojas se inauguram, ocupando espaços que antes foram moradas de pessoas conhecidas. A vida não pode parar. É preciso olhar para frente. E brindar aos casaizinhos que festejam a espera do primeiro filho, com a esperança de que renove o mundo, tornando-o mais humano e feliz.