Mãe e filho em casa, conversando. Ela é uma mulher que sofre muito, já perdera o marido e um filho assassinados, e vive com medo de perder o único familiar que lhe restou. Além disso, acredita que o castigo recebido pelos assassinos – a prisão – foi pouco para o mal que causaram.

O filho está para se casar e ir embora. Apesar de querer levar a mãe, ela se nega a ficar longe do marido e do filho ali enterrados, e também demonstra certa relutância em aceitar a futura nora, levantando questões que hoje consideramos bobagens, mas, à época retratada – não informada com exatidão na obra – talvez pudessem ser vistas como um problema: a moça já havia tido um namorado, e sua mãe não era conhecida por muitas pessoas, não se sabia sua verdadeira índole.

A opinião da mãe sobre a moça, que até então parecia não ser mais que ciúme do filho e medo de perdê-lo, começa a piorar quando descobre, através de uma vizinha, que o namorado que ela teve, Leonardo, é membro da família dos assassinos de seu marido e de seu filho, e que, ainda por cima, é casado com uma prima da moça e, portanto, assistirá a cerimônia.

A noiva é uma jovem de 22 anos. Quando ela surge em cena, no dia em que mãe e filho vão pedir sua mão, já podemos ver que, apesar de aceitar se casar e, pelo menos aparentemente, querer fazê-lo, alguma coisa a preocupa e a deixa em dúvida sobre o matrimônio.

No dia da boda, algo acontece à moça, deixando-a incomodada e sem nenhuma vontade de festejar. Dizendo-se cansada, ela se retira para o quarto e ninguém mais a vê. É então que a mãe, apesar de temer o que possa acontecer ao filho, começa a incitá-lo a lavar sua honra com sangue.

Esse é o início de Bodas de sangre, de Federico García Lorca. Apesar de ser de 1932, o contexto histórico da obra é outro, e o autor retrata e critica uma sociedade espanhola arcaica, em que as mulheres não têm voz nem vontade, e é ensinado a elas, desde o início, que devem se submeter aos homens, representados em cena pelas figuras dos maridos.

Além disso, nesse espaço-tempo, aos homens era ensinado que a honra deveria ser limpa com o sangue daquele que a feriu. Daí o medo da mãe de perder o filho. Mas as questões de honra eram tão mais importantes que, mesmo com esse sentimento, ela o incentiva a buscar a vingança pelo agravo sofrido.

 

Referência:

GARCÍA LORCA, Federico. Bodas de sangre. 2ed. Buenos Aires: Longseller, 2007. 176p. (Clásicos de Siempre. Joyas del Teatro)